CO-267
Andrade, Mário de. [Carta] 1940 jan. 13,
São Paulo, SP [para] Candido Portinari,
Brodowski, SP. 2 p. [manuscrito]
Portinari
Cheguei da fazenda e devo ir sexta pro Rio, recomeçar a vida de trabalho. Encontrei a sua carta aqui e, aliás, estava mesmo pra lhe
escrever, explicando mais detalhadamente por que desisti de ir pra Brodowski. Não era possível, fiquei acanhado. Eu sei bem que posso tomar toda a liberdade com você, Maria, todos aí, nossa amizade permitia isso. Mas tudo tem um limite de delicadeza neste mundo, e eu me acanhei de dar um trabalhão a vocês, comida especial, tratamentos especiais e ainda outras coisas, resultantes dos tratamentos. Por isso resolvi ficar todo o tempo das férias na fazenda desse primo, que é mesmo que irmão, pois crescemos juntos e não existe nenhuma reserva entre nós. Aí eu me envergonharia de estar dando tanto trabalho a sua mãe, além da delicadeza natural que implicava a presença de Olga. Tenho a certeza que você me compreenderá positivamente, eu tinha que desistir do prazer de Brodowski e das nossas boas conversas por esta vez.
Estou passando bem milhor agora, mas ainda terei de voltar a S. Paulo nestes dois meses pra completar o tratamento da boca e fazer operação das amídalas. Quer alguma coisa do Rio? Pode escrever pra lá e mandar o que quiser, que estarei às suas ordens. Me recomende a sua mãe e pai, a Maria e Olga. Um grande abraço pra você com José e mais a bênção de Deus pro Antonio Cândido.
Mario