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Billboard of Iberê Camargo, part of the Rede Brasil Sul project at New Year celebrations

1983

Iberê Camargo Foundation

Iberê Camargo Foundation
Porto Alegre, Brazil

"'[...] Meu trabalho é uma homenagem a essas mulheres que lutam para gorar os ovos da morte que os Governos semeiam pela terra. [...] Falo apenas em nome da vida e não na defesa desta ou daquela ideologia.
Empreguei velhos símbolos como a criação do homem segundo Miguel Ângelo, quando o Criador toca a mão da criatura com a vida, para lembrar que agora esse homem tem a capacidade de destruir o que foi criado. Não creio que essa preocupação com o holocausto nuclear seja coisa para gente do Primeiro Mundo, apenas. Nós, cidadãos de terceira classe do planeta, também vamos morrer quando uma das superpotências apertar aquele maldito botão.
Aqui no Brasil somos alienados, ficamos presos no grito de gol. Minha mensagem de Ano Novo não é de euforia, mas de preocupação. Posso ter sido panfletário, mas jamais omisso. A hora exige clareza. Não nasci para enfeitar o mundo. A Arte é para dizer algo profundo, a Arte é a voz do Homem.'
Um vigoroso apelo pela paz através da denúncia da corrida armamentista que está levando a Humanidade à beira do holocausto nuclear. É esta a temática do outdoor de Iberê Camargo, um dos 30 artistas gaúchos convidados por Zero Hora para participar da exposição que vai ser inaugurada nas ruas de Porto Alegre no dia 1º de janeiro de 1984, marcando o Ano Novo. A exposição gigante vai utilizar os espaços normalmente ocupados por mensagens publicitárias nos cartazes de três metros de altura por nove metros de largura espalhados na Capital.
Iberê ('a rua é a tribuna do povo', diz ele) dedica seu painel às mulheres pacifistas da Alemanha Ocidental que recentemente se acorrentaram umas às outras formando uma barreira humana para impedir a passagem dos mísseis nucleares Cruise, que os Estados Unidos estão instalando na Europa apontados para a União Soviética. [...]"
Iberê fala do seu cartaz: "panfletário talvez, omisso não." Zero Hora, Porto Alegre, 19 dez. 1983.

"A história mostra que tempos políticos nervosos não só cobram dos artistas alguma resposta e tomada de posição, como interrogam a própria arte sobre seu papel na sociedade.
Em 1983, quando o Brasil estava em agitação com o movimento que buscava o fim da ditadura e as eleições diretas, um projeto engajou um grupo de artistas a levar um pouco de arte às ruas de Porto Alegre. A iniciativa foi inovadora na cidade ao apresentar trabalhos artísticos em outdoors. Entre os participantes, estava Iberê Camargo, gaúcho reconhecido àquela altura como um dos grandes pintores brasileiros, que se reambientava em seu retorno ao Estado depois de décadas vivendo no Rio de Janeiro.
A organizadora da exposição artística em outdoors foi a jornalista Angélica de Moraes, que, como setorista da cobertura de artes visuais no 2º Caderno de ZH, buscou ela também dar uma contribuição ao clima político daquela época. [...]
– O jornal preparava as comemorações de seus 20 anos e resolvi sugerir ao diretor de redação, Lauro Schirmer, uma exposição de outdoors artísticos para assinalar o início do ano comemorativo [...].
O país vivia a ebulição da campanha das Diretas Já, e os artistas plásticos gaúchos estavam fortemente envolvidos em manifestações e passeatas. Todos os artistas tiveram total liberdade de tema. A maioria fez trabalhos que aludiam à campanha das Diretas. Iberê já apoiava essa causa e usava um macacão dos postos de gasolina Ipiranga com o logo da empresa, nas costas, transformado por ele no slogan 'Grito do Ipiranga Já'. Mas sua primeira experiência em arte urbana tratou da paz mundial. [...]"
DALCOL, Francisco. Exposição resgata envolvimento de Iberê com a agitação política dos anos 1980. Zero Hora Digital, Porto Alegre, 8 abr., 2016. Disponível em: <http: / /zh.clicrbs.com.br /rs /entretenimento /noticia /2016 /04 /exposicao-resgata-envolvimento-de-ibere-camargo-com-a-agitacao-politica-dos-anos-1980-5757346.html>. Acesso em: 06 mai., 2016.

"[...] Generoso, [Iberê Camargo] aceitou o convite de pronto quando ousei abordá-lo para a experiência dos cartazes, como curadora da primeira mostra de outdoors artísticos a ser realizada no Rio Grande do Sul e nos moldes do que tinha sido feito há pouco pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP), nas ruas de São Paulo [...]. A versão gaúcha desse evento, realizada em 1984, reuniu 30 artistas de diversas gerações, desde nomes consagrados como Xico Stockinger até o jovem grafiteiro Frantz.
Diante do sucesso de público, com caravanas de estudantes vindos do interior para visitar o conjunto de trabalhos, distribuídos ao longo de algumas das principais avenidas de Porto Alegre, o patrocinador resolveu estender o período de exibição da mostra. Porta aberta para a ira de Iberê, homem de contratos precisos e limpidez de intenções.
Habituado aos materiais de vocação perene, ao abrigo das salas expositivas, foi com revolta que Iberê viu seu trabalho ser despedaçado pelo vento e pela chuva depois de algumas semanas de exibição nas ruas. Em tom de desagravo, rapidamente a direção do Museu de Arte do Rio Grande do Sul providenciou nova exposição, desta vez indoors, dos estudos que geraram o cartaz de rua do ilustre filho da terra. Nada mais coerente com a obsessão do pintor por vencer o tempo, mesmo aquele da meteorologia."
MORAES, Angélica de. Iberê Camargo: diálogos no tempo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2016. p. 10.

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  • Title: Billboard of Iberê Camargo, part of the Rede Brasil Sul project at New Year celebrations
  • Date Created: 1983
  • Location Created: Porto Alegre, RS
  • Rights: © Fundação Iberê Camargo
  • Medium: Photography
  • Credit: Unknown
  • Collection: Acervo Documental Fundação Iberê
  • Accession number: F4864
Iberê Camargo Foundation

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