CO-1189
Castro, Ferreira de. [Carta] 1955 jan. 25, Lisboa [para] Candido Portinari, Rio de Janeiro, RJ. [datilografado]
Meu caro Portinari:
Há quanto tempo que não tenho notícias diretas suas! Há quanto tempo que não o vejo! Ainda há poucos meses, em Paris, falei de si com amigos comuns e bastante lamentei não o ver por lá.
Hoje, escrevo-lhe a correr, sobre um assunto bastante urgente.
Os meus editores têm o projeto de fazer uma edição de luxo de “A Selva”, comemorativa da 25º aniversário da publicação deste meu livro, que se perfaz este ano. A decisão definitiva deve ser tomada dentro de oito dias, dependendo apenas de certos pormenores, como o prazo para a fabricação do papel especial, etc. Mas espera-se que tudo se arranje a tempo e a horas. Como os editores, que, aliás, são pessoas de bom gosto, pensam fazer uma edição de grande relevo gráfico, perguntaram-me qual era a minha opinião sobre o artista que devia ilustrar a obra. E eu tive a feliz inspiração de falar no seu nome. Eles ficaram imediatamente entusiasmados por essa idéia.
Mas, como não há bela sem senão, surgiram dois pontos negros no horizonte da nossa alegria: o prazo e os honorários. Eles desejariam 12 desenhos, a três ou quatro cores, para serem impressos em “offset”. Mas seria necessário que estivessem cá até 20 de Março, dado que a edição deve ser publicada em Junho. Esta é a primeira dificuldade, pois sei bem que V. tem sempre muito trabalho. Oxalá a possa vencer e eu tenha a imansa alegria de ver o seu nome associado artisticamente ao meu livro.
Quanto aos honorários, sinto um bocado de vergonha de falar nisso. Mas é preciso falar, apesar de tudo. Em virtude da grande categoria de você, os editores estão dispostos a pagar-lhe duma forma excepcional em relação ao meio português, isto é, 15.000 escudos pelos 12 desenhos. Mas este pagamento excepcional para o nosso meio, não tem, está claro, nada de excepcional para si, artista que, pelo seu gênio e pela sua glória, ganha quanto quer. Aqui está a segunda dificuldade. Poderá você resolvê-la?
Pedia-lhe, meu caro Portinari, que me respondesse na volta do correio ou por telegrama, se lhe for possível. Nós confirmaríamos também por telegrama.
Muitos cumprimentos a sua esposa e creia-me seu muito amigo e muito admirador
Ferreira de Castro
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