CO-379
Araújo, Paulo Correia de. [Carta] 1931 maio 2, Petrópolis, RJ [para]
Candido Portinari,
Rio de Janeiro, RJ. [manuscrito]
Caro Sr. C. Portinari
No Correio de hoje leio umas opiniões suas sobre “o caso da Escola Nacional de Belas Artes” que escandalizam...
Como já nos conhecemos (diante mesmo da obra de L. Putz) e simpatia manifestamos, venho-lhe dizer o meu pensamento, repetido, aliás no mesmo dia de hoje, no mesmo jornal, seção Vida Social, com falhas, entretanto...
1.º Por que mudou de idéia na crítica que fizemos juntos à tal nomeação? Não era, então, fundada?
2.º Não o compreendo quando diz: “o papel do mestre é orientar”.
Orientar o quê? Orientar = indicar diretrizes: e o momento requer “brasilidade”, que só brasileiro traz consigo.
Poderá, o aliás interessante colega, ensinar a ... ver, sentir (?), ser sincero (Munich!) e se lembrar...
Quem no seu atelier ensinará aos estudantes “a arte de pintar” ?
id. est: o material e sua utilização (Geom. plástica e composição)
os elementos e o seu funcionalismo (Anat., biol. etc.)
os veículos (técnicas, química etc.)
- Forma (não será a pintura uma arte “plástica”?) Não ostenta ele nenhuma. Haja vista a parasita roxa, a negrinha sentada debaixo da ilegível bananeira etc. Daí falta de composição.
Quanto a veículos: tem uma técnica particularíssima: absorventes, raspagens, misturas – tudo indicando temperamento, porém não a qualidade de ordem, que é o próprio de um professor de Escola.
- Esta nomeação ainda é... um erro do passado. Não é assim que entrará o sol verdadeiro e cairão as teias.
Um abraço
Paulo Correia de Araújo