Letter

CO-1149 Carvalho, Antônio de Barros. [Carta] 1946 set. 11, Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, Paris. 4 p. [manuscrito] Meu caro Candinho Com uma alegria enorme reli a sua carta e não posso deixar passar mais de três dias para acusar o recebimento, dando-lhe notícias. Todos nós passamos com saúde, já refeitos do susto que o apêndice da nossa Rosa Maria nos pregou. Foi uma coisa de intranqüilizar, porque o caso foi de apêndice gangrenado. Deus esteve conosco. Nós todos somos imensamente agradecidos ao seu interesse, da querida amiga Dna. Maria e da Inês. Aqui tudo vai no mesmo pé. Os seus, com saúde. De vez em quando vemos o Lói e a senhora – nossos afilhados. Sua irmã, Maria, veio passar oito dias no Rio. Chegou anteontem. Do Zé, sei que vai bem. A política se processa como sempre. Há as clássicas confusões passageiras até que um dia deixam de ser passageiras. Agora é o problema vice-presidencial. O Nereu Ramos, líder da maioria, está escolhido pelo P.S.D. para a vice-presidência. Está ocorrendo um desentendimento nesse partido porque o Melo Viana tinha pretensões. Minha opinião – o Melo Viana se acomodará. O Nereu será escolhido. As necessidades internas têm aumentado. As filas continuam mais grossas e maiores. Em S. Paulo há filas mesmo para tomar a “batida”! No setor artístico, o melhor que há é a entrevista do arcebispo de B. Horizonte negando permissão ao funcionamento da igreja da Pampulha. [Diz] ele que isto não tanto pelo lado arquitetônico da obra mas, principalmente, pelas suas pinturas. Quer dizer – você tem mais essa deliciosa aventura na sua vida heróica e brilhante de artista! Parabéns! Ontem, li um ofício do centro do Instituto de Arquitetos, dirigido ao Prefeito de B. Horizonte, pedindo permissão para ser instalado um museu na mesma igreja. A sugestão, aliás, foi do próprio arcebispo. Quanto a outras novidades, nada. O Salão parece que será em outubro, sem que se saiba de qualquer coisa oficialmente. A Rosa Maria tem feito alguma coisa. Estou satisfeito com ela. Pena é que você não esteja agora por aqui para dar-lhe uns conselhos. Quando é que você vem? Mande dizer. Como vai de trabalho? Mande-me, sem demora, um catálogo da sua exposição em Paris. E, quando for a Londres, também. Nós não lhe esquecemos nem aos seus – que todos são queridos e donos dos nossos corações. Os jornais daqui sempre falam em você. Até Pi[m]pinela, um desses dias, falou em você. Falou de bem. Tudo isso serve para aumentar as nossas saudades, já bem grande. Com um abraço afetuoso que atinja aos de casa, com as melhores lembranças ao João Candido e a Inês e especial abraço de Amália para Dna. Maria, aqui fica, como sempre, o mesmo seu Barros 2