CO-759
Blank, Joanita. [Carta] 1946 jul. 31, Rio de Janeiro, RJ [para] Maria Portinari,
Paris. 2 p. [manuscrito]
Minha querida Maria
Que bom que foi receber sua cartinha. Matou um pouquinho as saudades, que são muitas! Há tanto tempo que eu esperava carta sua e ainda não escrevera por não ter seu endereço. Manoel também me tinha lido a carta que Candinho lhe tinha escrito e, com as duas, eu pude imaginar um pouco a vida de vocês em Paris. Tenho também falado com Olga pelo telefone, para saber mais detalhes. Mas, apesar de tudo isso, o que eu quero é vocês de volta aqui no Rio, me contando tudo de viva voz! Muito egoísta da minha parte, bem sei, mas é porque eu gostaria de estar aí com vocês! Que farras que nós faríamos! Quando eu me lembro dos meus 4 meses de Paris – quando eu tinha 16 anos – tão chochos! Mal empregada estadia. Conhecíamos poucas pessoas e o único divertimento eram exposições e magazins. Sei que isso não é pouco, mas é que, então, eu não gozava como gozaria de hoje em dia e, principalmente, se estivéssemos juntas aí!
Mas, não adianta chorá... Como vai o francês do João? Olga me contou que ele engordou 2 k. Você deve estar contente com isso!
Diga ao meu “padrinho” que, nesse fim de semana, pintei – me lembrando sempre dos bons conselhos que recebi dele. Sinto-me sempre tão rica, quando me lembro que o que eu sei, me foi ensinado por Candinho. A semana passada, estando em casa de Guita, fiz vários desenhos dos meninos, cada qual mais prosa de ser retratado e, em mesmo tempo, não tendo a menor noção do que é ficar quieto!
Depois de várias tentativas, Guita desistiu de ter ama e está tratando dos meninos sozinha. É pesado para ela, com aquela escadaria para subir e descer, quando os leva à praia. Ela tem a recompensa de vê-los mais obedientes, mais cuidados, e ela não leva os sustos que levava, quando eles estavam entregues a essas criaturas que se chamam babás, e que não têm a menor idéia do que é responsabilidade. Mamãe também ajuda, ficando com os meninos quando Guita tem que sair – dentista, etc. É uma vida muito presa, mas de hoje em dia parece que não há mais vida confortável. Devemos nos dar por felizes quando as saúdes são boas e se tem o que comer!
Você tendo um tempinho escreva, para eu saber como vocês vão indo.
Diga a Inez que para a semana escrevo para ela. Por hoje mando um grande abraço. Um beijo para João e para você e Candinho um abraço muito afetuoso da
Joanita
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