CO-1806
Machado, Lourival Gomes. [Carta] 1954 jan. 13,
São Paulo, SP [para] Candido Portinari, [s.l.]. [manuscrito]
Meu caríssimo Portinari,
Andei seguindo nos jornais as notícias – e depois a onda – que se publicaram sobre sua alergia, já hoje célebre. Esperei confiante e veio seu estrilo, muito necessário. Ótimo! Basta isso para saber que é excelente sua saúde física e mental.
Creio que, por estas alturas, você já saiba realmente o que há entre você e as tintas e possa mandar-me dizer, pois continuo no rol dos que se interessam realmente por quanto diga respeito à sua saúde e tranqüilidade. A esse propósito, devo confessar-lhe que demorei em mandar-lhe esta carta, primeiro para deixar bem claro que, pelo menos, eu não fui na onda, e depois porque também eu ... fiquei doente. Como não sou homem célebre, pude pelo menos manter-me resguardado dessa discussão pública das minhas afecções. E foi sorte mesmo, porque – imagine! -, ao cabo dos mil e um exames de laboratório, que são de praxe em tal caso, acabaram descobrindo que tenho os intestinos mais povoados de bacilos do que esse Brasil é povoado de burros. Como vê, um diagnóstico positivamente impublicável!
Ainda ando sofrendo duramente com essa história, mas este ano tenho concurso pela frente e não poderei parar de forma alguma. Por isso, inverti aquele dito e vou “fazendo do coração, tripas” – toca-se para a frente, e é tudo.
Mas, se n’alguma coisa puder servi-lo, não há doenças nem encrencas, mas apenas esse seu amigo que, com Lourdes, abraça a você e à Maria, sempre pronto para servi-los.
Lourival
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