CO-744
Sodré, Niomar Moniz. [Carta] 1944 dez. 30,
New York, NY [para] Maria Portinari;
Candido Portinari,
Rio de Janeiro, RJ. 2 p. [manuscrito]
“Chico” e “Chico”
Ainda este ano, tenho de
escrever a vocês. Não para matar saudades, porque até atrapalha, deixa a gente triste, melancólica, em hora errada, em hora que não devia estar. Mas para enviar a vocês o nosso grande abraço, com os melhores votos de um Ano Novo feliz, gostoso, trabalhoso, livre, em que pintura possa ser feita “solta”, sem Ministério ou DIP... ou, com eles entendendo; que João Candido seja sempre a maravilha que é, virando as suas cambalhotas e inspirando aquelas coisinhas lindas (mesmo quando são feias) que a gente, quanto mais olha, mais gosta e mais se prende; e (fala a gulodice) que continuem os jantares gostosos (quando não há cozinheira) na mesa grande, movimentada e divertida, em que a gente não faz cerimônia e tem que acabar engordando... Reclama, mas não resiste. E, agora, para atrapalhar, chega a saudade de tudo, das “roses”, do cafezinho que não faltava, daquela meninada “enquadrada”, que ainda está viva nos meus olhos, de você, Maria, implicando com o Paulo e com o “Chico”, e saudade até da cacetada que nós dávamos a vocês, com um “bate-papo” interminável, em horas “fora de hora”.
Niomar
New York 30-12-944. Como vai o meu retrato? E a viagem a Buenos Aires? Torço contra você: que ela só se realize quando nós já estivermos no Rio...
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