Dias antes da estréia, ela quase per-
deu a voz e recorreu às pressas a um
curso de psicotransoterapia com o ob-
jetivo de liberar para o plano da cons-
ciência algumas emoções escondidas.
Elis dizia que estava ficando trava-
da, sentia dores horríveis quando
cantava, achava que sua voz come-
çava a desaparecer e que desapren-
dera a cantar - na verdade, ela desa-
prendeu tanto e sua voz desapareceu
tanto que o show ficou quase dois anos
em cartaz e com a platéia lotada. De
volta às homenagens aos 25 anos de
sua morte, já se cravou o mês de mar-
ço para o lançamento da nova edição
revista do livro Furacão Elis (Ediou-
ro), a melhor biografia da "Pimenti-
nha", escrita pela jornalista Regina
Echeverria. Aliás, foi justamente ela,
Regina Echeverria, quem certa vez tes-
temunhou o porquê da exatidão do
apelido e o porquê do brilho e presti-
gio da cantora: "Eu estava na platéia
assistindo a um ensaio e repentinamente
Elis interrompeu e deu uma violenta
bronca em todos os músicos. Naquele
momento eu percebi o tamanho de sua
musicalidade. E a força de seu tempe-
ramento." Terminada a bronca, com a
maior tranquilidade Elis olhou para Re-
gina e perguntou: "Vamos jantar?"
Essas oscilações, ainda que em
busca do perfeccionismo no campo
profissional e de superação de um
sentimento crônico de abandono no
campo das relações pessoais, faziam
de Elis Regina uma mulher atirada,
ousada, inquieta, brigona, sensível,
solidária, irreverente, boa amiga e,
quase sempre, infeliz. No dia 19 de
janeiro de 1982, no auge da fama e
recém-separ de seu
o pia-
nista e compositor César Camargo
Mariano, ela estava em seu aparta-
mento em São Paulo (quinto andar
de um prédio da elegante rua Melo
Alves, nos Jardins). Passara a noite
em claro. E era manhã mais que clara
quando decidiu deitar-se e dormir. An-
tes, tomou um coquetel fatal de uis-
que com cocaína e sonifero. Às nove
e meia da manhã, ainda teve forças e
pediu socorro pelo telefone. Em vão.
Elis Regina morrera. Tinha 36 anos,
uma legião de fãs e 23 ml de cocaína
a cada 100 ml de sua urina.
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