DESP
9.4.89
Fusão a frio é tão boa que
cientistas desconfiam
em laboratório com dispêndio de
muita energia. Grande parte do
metabolismo vital das células so
acontece porque eristem catalisa-
dores naturais.
Todos os catalisadores conhe-
cidos, no entanto, atuam somente
na nuvem erterna dos elétrons. Os
dois químicos anunciaram ter
conseguido justamente catalisa-
dores de reações nucleares. Ato-
mos de hidrogênio sdo absorvidos
com facilidade no metal chamado
paládio, o catalizador da reação.
A experiência da dupla de
cientistas foi feita com água pesa-
da (constituida de deutério, em
vez de hidrogênio). Uma placa de
paládio foi instalada numa extre-
midade do recipiente e uma de pla-
tina, no outro lado e através da
água se passou corrente elétrica.
Essa eletrólise divide a água pesa-
da em deutério, que vai para o pa-
Iddio, e oxigênio, que vai para a
platina, formando bolhas.
Eventualmente os deutérios se
acumulam em tal quantidade, no
paládio, que acabam ficando mui-
to próximos uns dos outros. Como
todos os dtomos têm também um
comportamento ondulatório (eles
eribem características de ondas,
além de se comportar como de par
ticulas), o deutério pode entrar em
qualquer lugar desse espaço da
onda, em vez de ocupar um lugar
firo e determinado. Pode aconte-
cer, então, de as ondas que repre-
sentam dois deutérios se superpo-
Tem . Esse é o chamado "efeito tu-
nel", porque as particulas, repre-
sentadas por ondas, podem furar
essas barreiras que seriam opacas
na fisica clássica.
Em outras palavras, dois ato-
mos adjacentes de deutério podem
se fundir. Eles fazem isso muito
raramente, mas cada uma dessas
rações libera um pouco mais de
energia e torna mais provável o
aparecimento de outro efeito tunel
nas adjacências. Eventualmente,
dizem os quimicos, a experiência
fornece mais energia do que foi
gasta na sua produção.
Dessa maneira, podemos ter
fusão atômica a temperatura am-
biente - não uma fusão com mi-
lhões de graus, mas uma "a frio".
Existe deutério suficiente na
água do mar - uma reserva prati-
camente inesgotável. O que é me-
Thor: a reação de fusão dará como
subproduto apenas o átomo de he-
lio, que é completamente inofensi-
vo, e não os resultantes das rea-
ções de fissão dos reatores tradi-
cionais, que levam milhares de
anos para extinguirem a radiati-
vidade e toxidez.
Se essa fusão a frio funcionar
teremos en tdo uma fonte de ener
gia limpa, que pode, sozinha
substituir todas as outras, aca-
bando com o efeito estufa, a polui-
çdo do ar e osmog, além de bara-
tear os custos em geral.
Há apenas um problema. Tu-
do parece ser tão bom, que os cien
tistas acabam ficando com a sen
saçdo de que isso não é verdade,
Vamos esperar para ver.
Isaac Asim é eseritor e cienta
Se for verdadeira, a
descoberta poderá dar
toda a energia de que a
humanidade precisa
ISAAC ASIMOV
Durante quatro
décadas os cien-
tistas vêm ten-
tando desespe-
Yadamente de
senvolver um
sistema contro-
lado de fusão
nuclear, que
forneça para a
humanidade
tanta energia quanto ela precisar,
enquanto a Terra eristir. Nesses
40 anos registraram apenas fra-
cassos. Mas agora, de repente,
dois quimicos, Stanley Pons, da
Universidade de Utah, e Martin
Fleischmann, da Universiddae de
Southampton, Inglaterra, dizem
ter conseguido essa proeza de ma-
neira completamente inesperada.
Tanto que muitos cientistas ainda
acham dificil acreditar nos dois.
Primeiro devemos saber por
que os cientistas falharam até
agora. Os atomos consistem de mi-
núsculos núcleos circundados por
nuvens de elétrons. Todas as rea-
ções quimicas envolvem mudanças
nessa nuvem erterna.
Podemos obter mais energia,
se lidamos com particulas do inte-
rior do núcleo. Eles podem ser fun-
didos para formar um núcleo de
jum átomo maior. O hidrogênio,
por eremplo, pode-se juntar para
formar o hélio, mas, para que 1880
aconteça, eles têm de ser violenta-
mente espremidos com uma pres-
são enorme e uma temperatura
muito alta.
O Sol obtém sua energia por
esse processo, mas, no centro do
astro, as pressões sdo bem altas e a
temperatura, da ordem de 15 mi-
lhões de graus. Em laboratórios na
Terra não há maneira de produzir
tanta pressão como no Sol, e, por-
tanto, a temperatura tem de ser
bem maior, da ordem de centenas
de milhões de graus. Além disso, é
preciso usar deutérios (um tipo ra-
ro de hidrogênio, mais pesado) pa-
ra que a fusão se torne mais fácil.
Nessas últimas quatro déca-
das os cientistas tentaram aumen-
tar essa temperatura e pressão,
para obter a ignição da fusão, mas
sempre sem sucesso. Os quimicos,
no entanto, já sabiam que algu-
mas reações difíceis podem ser fa-
cilitadas por substancias chama-
das catalisadores em cuja superfi-
cie as transformações químicas
podem ser aceleradas. Na indus-
tria, já é rotina o uso dos cata-
lisadores para acelerar reações
químicas em toda a sorte de ativi.
dades. Essas substâncias partici-
pam indiretamente das reações e
não são incorporadas ao produto
final. Também o corpo humano
tem centenas de diferentes enzi-
mas, que realizam com baixas
energias reações que só ocorrem
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