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Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil
Brasil

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  • Título: Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil
  • Transcrição:
    Como o senhor analisa a cultura brasileira de hoje e nos tempos da Tropicalia? • O tempo da Tropicalia era o de um Brasil em fase de intensificação do processo de moder- nização, num mundo em fase de grandes trans- formações políticas, sociais e econômicas. A vida cultural do país sofria o impacto dessas transformações na cultura internacional e, por sua vez, impactava de volta toda a vida nacio- nal brasileira. A literatura e a música, o teatro e o cinema, o esporte e as comunicações, o consumo e o comportamento, tudo na vida brasileira era objeto das atenções coletivas, tudo era cenário para novas formas de expressividade cívica, tudo era laboratório para experiências de emancipação e desenvolvi- mento. Era o desejo e o impulso para a mo- dernização tardia que precisávamos fazer para que o país alcançasse o patamar de nação avançada. Havia pressa e sofreguidão. Havia orgulho pelo genuíno e espontâneo da nossa cultura, pelo criativo e inusitado do nosso modo de ser, pelo lugar particular e destacado que poderíamos vir a ocupar no mundo que começava a nova globalização. Muito se conseguiu e muito se frustrou. De modo que hoje chegamos ao tempo pós- moderno ainda com imensas tarefas das fa- ses anteriores da História por realizar, mas já tendo muito que apresentar neste contexto de interdependências e compartilhamentos com- pulsórios que caracteriza o mundo contem- porâneo. A nossa cultura tem vantagens para os dias atuais, advindas de uma certa desvan- tagem remanescente dos tempos da moder- nização inconclusa de ontem. Ou seja, o Bra- sil poderá vir a se beneficiar do que deixou de fazer ontem, por poder fazê-lo agora de manei- ra mais nova. O Brasil pode tirar partido do seu próprio paradoxo, do seu próprio viés assimétrico, para chegar mais rápido a um lugar central num mundo de paradoxos com- partilhados e assimetrias globalizadas. O projeto Mais Cultura, do Governo Fede- ral, pretende investir quase cinco bilhões nos próximos três anos. Como será a dis- tribuição dessa dotação pelas diversas áreas? Há prioridades? • Há prioridades estabelecidas por vários cri- térios: territórios especiais, setores sociais prioritários, áreas culturais mais carentes, re- giões menos atendidas e assim por diante, sempre buscando levar mais a quem mais precisa, segundo necessidades consensua- das e atendimentos pactuados, como tem buscado toda a política social do governo Lula. O senhor acha que a maioria das pessoas consegue diferenciar o músico do minis- tro? • Essa capacidade de diferenciar é resultado de um aprendizado do que seja a própria atu- ação do ministério e o papel do ministro nes- sa atuação. O trabalho do ministério tem sido exposto naturalmente à avaliação popular e o desempenho do ministro é avaliado junto com o do ministério. O artista, ainda que associe a sua imagem à do ministro, não tem muito a contribuir para o trabalho deste, a não ser com a dimensão representativa que lhe confere o fato de atuar num setor importante-a música da vida cultural do país. Em seu novo show, o público será liberado para gravar o que quiser usando câmeras fotográficas, vídeos e celulares. Por que a liberação? . São exigências experimentais da própria realidade social dessas novas tecnologias. Afinal, as câmeras, os celulares, os computa- dores, as redes eletrônicas, tudo isso tem sido colocado à disposição de sociedades inteiras para que elas se aperfeiçoem nos seus usos. Alguém tem que estimular esses usos e a sua socialização intensiva e extensiva. É isso que tenho tentado fazer com tal atitude. O senhor acha que, sendo a internet uma forma alternativa para muitos artistas di- vulgarem seus trabalhos, isto não incenti- va a pirataria? Em sua opinião, quais as melhores medidas para se combater a pi- rataria? • Toda inovação tecnológica que propicia ampliação de acesso e facilidade de reprodu- ção de qualidade estimula a particularização dos usos. Chamar de pirataria essa possibili- dade de particularizar o uso dessas novas tecnologias, simplesmente porque esse uso possa estar dissociado de algum interesse comercial estabelecido e fora do alcance dos seus controles, parece ser uma simplificação perigosa. Há muita coisa que vem sendo clas- sificada de pirataria que não deveria ser clas- sificada como tal. Há mudanças que preci- sam ser feitas nas leis para que elas se ajus- tem às novas exigências da realidade tecnológica, e não o contrário: para que as novas realidades se ajustem às velhas leis. Cada vez mais, artistas divulgam suas músicas pela internet. O senhor acha que esta nova tendência veio para ficar? O CD pode acabar? • Sim, a nova tendência veio para ficar. Os CDs existirão ainda para os setores da popula ção que não têm acesso a computadores, celulares, etc. Como sabemos que esse aces- so vem aumentando dramaticamente, é qua- se certo que os dias do CD, como dono do mercado, já começam a ser contados.
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