“Não quero saber dessa revista (Veja)"
to dos Sem-Terra, que era uma coisa,
virou outra e haja violência. Os lano-
måmi, que vivem da pesca, das coisas
do rio, vêem seu rio poluído por um
óleo tóxico. Está tudo bagunçado.
Um terror.
blicou uma matéria que abordava a
morte sob o viés do consumo de dro-
gas. Como você avalia aquela capa?
MILTON - A partir daí, eu geralmen-
te nem falo o nome dessa revista.
Cortei, não quero dar entrevistas,
não quero que eles apareçam em
meus shows, nada. Eles já tinham
feito coisas comigo também, mas
comigo eu não estava nem aí. Agora,
isso que eles fizeram não dá, porque
era uma mentira. Ao mesmo tem-
po, saiu uma matéria na IstoÉ, uma
coisa bonita, que dizia uma série de
coisas, mas de uma forma tão deli-
cada, amorosa. A partir daquele dia,
eu nunca mais li, não quero saber o
que disse, o que não disse, não que-
ro saber dessa revista (Veja).
IMPRENSA - O que você espera des-
ses próximos quatro anos de gover-
no Lula?
MILTON- Eu espero que nesses próxi-
mos quatro anos Lula dê uma cami-
nhada, com quem tiver que ser; para
melhorar. Porque não está dando
para turistas virem para cá, não está
dando para a gente andar em lugar
nenhum. A gente já sai de casa com
medo. Tem que haver uma coisa, que
eu não sei bem o que é. O Movimen-
30 IMPRENSA. N° 220 - JANEIRO/FEVEREIRO 2007
IMPRENSA - A música, neste caso,
pode ajudar em alguma coisa?
MILTON - Acho que sim, porque se
não ajudar eu vou parar. Houve um
show em São Paulo, em um estádio
de futebol, em prol da Anistia Inter-
nacional. Vieram Sting, Peter Ga-
briel, vários outros e eu. Estava lota-
do. Quando acabou eu pedi para que
as pessoas refletissem sobre aquilo,
no motivo daquela noite, que pen-
sassem no que poderia ser feito.
Tempos depois, estava numa co-
letiva em Salvador (BA) e alguns ga-
rotos de 16, 17 anos me disseram que
estavam em São Paulo naquele show
e, por causa do que eu disse, funda-
ram a Anistia Internacional Jovem
na cidade. O mesmo aconteceu em
Poços de Caldas (MG). Depois de
um show, um grupo de crianças - o
mais velho tinha 13 anos - me pro-
curou para contar que haviam fun-
dado a Anistia Internacional Infantil
na cidade. E ela existe até hoje.
IMPRENSA - Como um carioca pode
ter se tornado a cara de Minas?
MILTON-Eu, na verdade, sou mineiro e
carioca, porque gosto dos dois lugares,
para mim não tem diferença. Eu moro
aqui no Rio, mas perto das monta-
nhas, água por todos os lados, cachoei-
ra, lagoa, rio e mar. Para mim não tem
esse negócio. Eu sou "mineiroca".
IMPRENSA - E a entrada na música?
Como surgiu Milton Nascimento?
MILTON -Desde pequeno, quando fui
para Três Pontas, ganhei uma san-
fona. Minha mãe gostava muito de
cantar e eu acompanhava ela dentro
das minhas possibilidades, porque a
sanfona não tem nada, não tem no-
tas pretas, nem brancas, precisa suar
para tirar um som. Ela cantava mui-
to nas festas de rua, de igreja, leilões.
Ela ia cantar e eu acompanhava. Aí,
tinha uma parte que a sanfona não ia
dar conta, não tinha a nota que pre-
cisava, eu fazia com a voz. Agora nem
me pergunte como, porque eu não
faço idéia de como eu fazia isso.
IMPRENSA - Em toda sua vida você
foi muito abraçado. Primeiro, por sua
família mineira. Em seguida, pelo es-
tado. Depois, pela família dos Borges,
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