CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Revista Vogue Brasil - SP
SEÇÃO:
Vogue Nostalgia
CLIPPING
SERVICE DATA:
Set/2008
Perigosas peruas
Os anos 70 não seriam os mesmos sem as Frenéticas,seis
garotas que começaram como garçonetes na noite e viraram
estrelas nacionais numa época em que se acreditava que a festa
nunca iria acabar Por Eduardo Logullo Fotos Vania Toledo
Foto: Paulo Johos/ Agencia O Globo
EXISTE UMA INCLINAÇÃO geral en
tre críticos de música em citar as Frenéticas
como brincadeira de época, uma coisa da
tada. Bobagem, preconceito e desinforma-
ção. O sexteto vocal de mulheres desvaira-
das que tocou fogo na MPB riponga do fim
da década de 70 deveria ser considerado,
além de fenômeno do então lucrativo setor
fonográfico, uma realização artística im-
portante- e que certamente terá a sua obra
musical desvendada pelas novas gerações,
mais cedo ou mais tarde.
Atributos musicais não faltam. Sem
contar a dose inesperada de gandaia que
essas seis garotas adicionaram ao compor
tamento jovem daquele periodo, quando
o Pais ensaiava o desmonte definitivo da
ditadura militar. Se você não lembra (ou
não viveu a época), este era o cenário musi-
cal pré-Frenéticas: o público se dividia en
tre as mesmices dos discursos desafiadores
ao militarismo, vindos de compositores e
intérpretes ranzinzas e nacionalistas, Ney
Matogrosso e Rita Lee eram praticamente
os únicos estranhos a isso - além dos baia-
nos, claro. Em 1977, as coisas mudariam
com o apelo dançante do disco Bicho, de Ca-
etano Veloso, e as apresentações da Banda
Black Rio com seu Bicho Baile Show, um ano
depois - ambos execrados pela crítica que
venerava o blablabla de protesto. A censura
ainda vigorava, filmes eram interditados, le-
tras de música precisavam ser liberadas por
algum censor imbecil, manifestações políti-
cas sofriam forte repressão policial.
Mas o mundo já dava pinotes para outros
rumos. Na Inglaterra surgiam os punks, a
new wave despontava, a onda disco se tornava
o ritmo mais tocado no Ocidente, as gran-
des cidades celebravam a cultura das ruas.
No Brasil, entretanto, a "salvação da pátria"
continuava nos cálices bentos do Clube da
Esquina, nos sambas de João Bosco, nas me-
táforas de Beth Carvalho, no amargor de Elis,
nos poetas regionalistas. Declarar-se con-
tra esse time pegava mal. Eles eram, afinal,
os redentores políticos. Os outros, criadores
alienados. Bicho Baile Show esteve em cartaz
por pouco tempo, com público escasso. Rita
Lee irritava os diretórios universitários. Esses,
Vogue
nostalgia
Acimo, As Frenéticas
em apresentação no
Rio com fantasias
criadas por Fernando
Pinto, carnavalesco
e figurinista oficial
do grupo, em 1981.
Abaixo, as garotas
dez anos depois
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