Embora prazeroso e instigante,
seria redundante, considerando o
ambiente em que estamos, o tema
de que tratamos e as pessoas para
quem falo.
Afinal, este é um assunto do ab-
soluto dominio de todos que estão
aqui.
Exatamente por isso, este é tam-
bém o fórum ideal para algumas re-
flexões. Não para oferecer respos-
tas. Mas para colocar perguntas. De
resto, se as perguntas forem corre-
tamente formuladas, as respostas já
estarão contidas nelas.
Em tempos em que a cultura foi
circunscrita e rebaixada ao nível das
especializações; em que perdeu sua
condição de totalidade - sem, en-
tretanto, perder sua natureza circu-
lar, esférica, holística, para usar uma
palavra que tenta recuperar seu ver-
dadeiro espírito - qual o papel da
arquitetura e do urbanismo para
além de sua função puramente
tecnológica e utilitária?
Desde que o indivíduo e as socie-
dades perderam a capacidade de or-
ganizar e construir seus próprios es-
paços, adequada e dignamente, e pas-
saram à condição de meros objetos
do jogo das economias e das tecno-
logias que as servem, qual o papel
real da
arquitetura e do urbanismo?
MINISTÉRIO DA CULTURA
A que identidade cultural as me-
galópoles contemporâneas se li-
gam?
Nos burgos medievais, ou mes-
mo nas vilas brasileiras do período
colonial, não é difícil responder a
esta pergunta. De resto, a unidade
plástica dos edifícios e dos conjun-
tos urbanos responde por si mesma.
Desde sempre, as habitações e as
cidades são "cenários" onde se pas-
sa o grande drama da existência hu-
mana.
De fato, as cidades nasceram como
expressões de uma determinada
evolução cultural, uma resposta ao
sentimento gregário do homem,
um espaço de solidariedade, de se-
gurança e de acompanhamento, o
focus da cidadania.
Cidade, cidadania, cidadão.
Este é o tipo de pensamento que
levou Lina Bardi a afirmar:
"O homem do povo sabe cons-
truir, é arquiteto por intuição, não
erra; quando constrói uma casa a
constrói para suprir as exigências de
sua vida; a harmonia de suas cons-
truções é a harmonia natural das coi-
sas não contaminadas pela cultura
falsa, pela soberba e pelo dinheiro."
Este significado, porém, estrita-
mente cultural, foi perdido.
A distância abismal entre a cida-