escrevo, tenho a vantagem
de aproveitar todo e qual-
quer momento que tenho
na vida. Se eu estiver triste,
faço canções de amor, coisas
mais profundas. Os momen-
tos felizes rendem coisas
mais leves, mais dançantes.
Você já acumula 275 co-
munidades dedicadas a
você no orkut -a maior
parte delas favorável ao
seu trabalho. Essas pessoas
entendem sua música?
Acredito que sim. Nos shows,
percebo a reação das pessoas
a
V
ANESSA DA MATA NÃO
quer ser conhecida
apenas pela sua be-
leza. "Talvez eu seja mais
respeitada se concentrar as
atenções
na minha músi-
ca do que espalhá-las pelas
minhas pernas, pela minha
bunda", reconhece. E ela
está preparada para ser su-
cesso de público, sem preci-
sar tirar a roupa
cada palavra que dou: elas
riem na hora que há uma iro-
nia e ficam sérias quando can-
to alguma coisa de ficar triste.
Como bato muito nessa tecla
de que gosto de fazer letras,
as pessoas prestam atenção.
Ser bonita facilitou sua vi-
da? Se você fosse feia, teria
chegado aonde chegou?
É muito doido: percebo que
sou bonita há pouco tem-
po. Sempre achei que era "a
inteligente". Tinha primas
muito mais bonitas que eu,
então tive que desbravar um
caminho no meu cabelo, nos
meu traços mais fortes, para
poder acreditar que também
era bonita. Isso é uma inte-
ligência: se assumir e gostar
dos seus traços. Mas, mesmo
Sua carreira incomodou
muita gente?
Não estou muito olhando
para esse lado. Mas, às ve-
zes, sinto que pessoas que
gostavam muito de mim hoje
viram a cara
Pessoas do meio musical?
Gente do meio. Uma canto-
ra ali... Mas é pouca gente.
Gostavam mais da sua mú-
sica antes do sucesso?
As pessoas buscam novidade
o tempo inteiro neste nosso
século 21. E isso tem a ver
com vaidade, com afirma-
ção delas. Da mesma forma
que algumas colocam botox
e peitão, outras precisam
isso tudo resolvido, existe
uma coisa que incomoda: se
você tem um corpo bonito
e eu tenho um corpo boni-
to-, as pessoas querem que
você se dispa (imitando voz
aguda]. "Por que você não
vai no Faustão de minissaia?"
Pode ser uma ilusão, mas tal-
Vanessa da Mata
ma novidade da música, da “Não levo elogio para casa, desconfio de tudo” vez eu seja mais respeitada
informática, o instrumento
mais moderno. E, quando
você não é mais novidade,
essas pessoas substituem
você. E um eterno consumo
da novidade.
se concentrar as atenções na
minha música do que espa-
lhá-las pelas minhas pernas,
pela minha bunda.
PLAYLIST
E em você, como bateu es-
se sucesso todo?
Sabe que eu acho que isso
ainda não aconteceu? Fico
preocupada em não me des
lumbrar. As vezes, faço o
contrário: dou uma sacaneada
em mim mesma. Se meu ego
começa a ficar um pouqui
nho grande, dou uma po
dada. Não levo elogio para
casa, desconfio de tudo,
Mas é lógico que, quando
ela me é necessária, eu bus-
co a vaidade.
Ela trilha seu
caminho como uma
das grandes cantoras
e compositoras de
sua geração sem
deixar de ser pop
Por Marcus Preto
DIVA? Vanessa aposta
em uma música popular
com valor
E quando a vaidade é real-
mente necessária?
Quando alguém tenta me pi-
sar ou fica um pouco enciu-
mado. Aí eu me situo de quem
eu sou e o que eu represento.
Quem você é e o que re.
presenta na música atual?
[Rindo] Sou uma composito-
ra que hoje em dia se orgulha
do seu lado pop. As pessoas
acham que ser popular é ser
chulo, o que é um precon-
ceito e uma burrice. Não é
possível que alguém acredite
mesmo que algumas pessoas,
porque são pobres ou sim-
ples, não gostem de coisas
que significam. E hoje eu
me sinto fazendo uma coisa
popular que tem valor. Ao
mesmo tempo, estou galgan-
do uma carreira de cantora.
Estudo para isso e sei que
tenho um timbre bonito.
Todo artista é vaidoso?
Esse é um pecado permi-
tido a essa classe?
Não sei, não. Essa neces-
sidade de ser aplaudido,
aprovado, é muito mais uma
questão de insegurança. No
meu caso, me sinto realizada
quando vejo as pessoas se
divertindo com uma música
que fiz – muito mais do que
me sentir a fodona, a super-
mulher. O orgulho é com a
obra, com o filho, não comi
go mesma.
Algumas das maiores can
toras da história envelhe-
ceram mal, artisticamente.
Você, agora que desfruta
do auge da juventude (32
anos), teme o que pode
acontecer com sua arte?
Envelhecimento é necessá-
rio. Não vou ficar me inje-
tando botox nem ficar me
matando para conseguir
uma coisa, seja física ou ar-
tisticamente, que não está
mais ao meu alcance. Vou
fazer tudo para que minha
cabeça continue necessi-
tando de emoções e paixão.
Mas sempre sem querer
competir com a energia dos
20 anos de idade. Como eu
"OS ÚLTIMOS TRÊS DISCOS
QUE EU COMPREI"
ONDE BRILHEM OS OLHOS SEUS
FERNANDA TAKAI
"Eu acredito na cantora suave.
Não gosto de quem precisa
mostrar que sabe cantar."
SALVADOR 1962-1963
GILBERTO GIL
"É o Gil antigo, gordinho,
bochechudo. Tem o jeito de
cantar e compor do começo."
WHITE CHALK
PJ HARVEY
"Ela é muito louca, canta meio
miado, meio gemido. Ela segue
as fórmulas."
ROLLING STONE BRASIL, MARÇO 2008 29
Hide TranscriptShow Transcript