OS 100 MAIORES
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MOACIR SANTOS
O professor talentoso da
bossa nova
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ERASMO CARLOS
O eterno porta-voz
da jovem guarda
MESMO SENUNCA TIVESSE SE
aventurado como intérprete,
Erasmo Carlos já teria seu
nome gravado na história da
MPB. Ao lado de Roberto
Carlos, ele escreveu clássi-
cos absolutos, de "Festa de
Arromba" a "Coqueiro Ver-
de", de "É proibido Fumar"a
"Detalhes". Mas ele foi mais
longe. Assumiu papel de líder
na jovem guarda, quando in-
corporava "O Tremendão".
Nos anos 70, brilhou com
álbuns que foram cultuados
pelas gerações seguintes. Es
ses"influenciados"puderam
ficar lado a lado com o idolo
em Erasmo Carlos Convida
Vol. 2 (2007), que rendeu
parcerias com Los
Hermanos, Kid
Abelha e Mari
sa Monte.
Paulo
Terron
PRA COMEÇO DE CONVERSA,
sem Moacir Santos (1926-
2006), a bossa nova não
seria como foi. O maestro
deu aula para alguns dos co-
adjuvantes da batida-João
Donato, Roberto Menescal,
Nara Leão, Sérgio Mendes,
Baden Powell, Wilson das
Neves e Eumir Deodato, por
exemplo-e é influência de
clarada para a triade prota-
gonista Tom/João/Vinicius.
Seu legado, no entanto, vai
além. As composições e os
arranjos do pernambucano
são peças únicas e inaugu-
ram um estilo, algo entre o
afro-brasileiro e o erudito.
Seu primeiro disco, Coisas
(1965), é uma das obras-
primas da música brasileira
e lhe rendeu um contrato
com a conceituada grava-
dora de jazz Blue Note -
pela qual lançou outros três
álbuns, entre 1972 e 1975.
Ramiro Zwetsch
136 ROLLING STONE BRASIL, OUTUBRO 2008
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WILSON SIMONAL
E o mundo - injustamente -
lhe virou as costas
UM INTÉRPRETE DOS MAIS
talentosos, Simonal (1939-
2000) também foi um dos
mais injustiçados. Após uma
trilha de sucessos a partir de
1966 -"Meu Limão, Meu
Limoeiro" e "Pais Tropical"
-e a ascensão de sua figu-
ra como mestre no charme
(afinal, não é qualquer um
que manda Homenagem à
Graça, à Beleza, do Charme
e ao Veneno da Mulher Bra
sileira como nome de disco),
ele viu tudo desmoronarem
1972, quando foi acusado
de ser informante do antigo
Dops. Artistas e imprensa
lhe viraram as costas. Daí,
seguiram-se a depressão, o
alcoolismo e uma vida de
siludida. Só em 2003, très
anos após sua morte, foi
inocentado pela Comissão
dos Direitos Humanos da
OAB, que afirmou não ha-
ver prova contra ele.
José Julio do Espirito Santo
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CAZUZA
A curta e histórica carreira do
maior poeta de sua geração
ELE PODERIA TER SIDO APENAS MAIS UM FILHO DA BURGUE-
sia carioca, da elite da Zona Sul do Rio que se libertou da
Ditadura cantando sobre biquínis de bolinha e bermudas
coloridas. No entanto, Cazuza (1958-1990), fez do sub-
mundo a matéria-prima de sua poesia. Primeiro, à frente do
Barão Vermelho. Depois, a partir de 1985.com Exagerado,
disco que marca o início de sua carreira solo. Livre das limi-
tações do rock, Cazuza se recriou para o Brasil como um
artista adulto e amadurecido. É quando a política torna-se
um assunto recorrente. Em manifestos explícitos como
"Ideologia" ou "Brasil" e até mesmo na exploração de suas
contradições e tragédias pessoais, seja na auto-afirmação
de sua bissexualidade em "Só as Mães São Felizes" ou no
drama do artista em estado terminal de "O Tempo Não
Pára". Em sua curta carreira, de pouco mais de sete anos,
viveu e escreveu o suficiente para entrar para a história
da música brasileira-talvez como o maior, senão o único,
poeta de sua geração.
Vladimir Cunha
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NELSON CAVAQUINHO
Sem técnica apurada, ele
esbanjava elegância
OUVIR NELSON CAVAQUI
nho (1910-1986) é constatar
queo virtuosismo vocal não
é predicado fundamental
para o bom cantor. O ca
rioca cantava com timbre
vacilante e rouco, sem
firulas nem grandes habili-
dades, e atingia a alma do
ouvinte com sinceridade e
personalidade raras. Perso
nagem central da Manguei-
ra, ele também esbanjava
elegância como letrista e
suas músicas são presen-
ça garantida em qualquer
roda. "Juízo Final" "Folhas
Secas" e "A Flor e o Espi-
nho" são apenas alguns
dos lampejos mais nobres
de seu lirismo boêmio. Ape
sar de ter desenvolvido uma
técnica de tocar com dois de
dos o instrumento que lhe
emprestava o nome, o sam-
bista sempre foi mais sagaz
ao violão. Morreu como se
sonha-dormindo, R.Z.
CÁSSIA ELLER
A voz visceral e a atitude
da eterna roqueira
EM 13 DE JANEIRO DE 2001,
Cássia Eller (1962-2001)
tomou de assalto as quase
100 mil almas que circula-
vam pela Cidade do Rock,
na terceira edição do Rock
in Rio: tocou de Chico Bu-
arque a Nirvana, convidou
Nação Zumbi e seu filho
Chicão para se juntarem, re-
bolou, mostrou os seios...
Era a prova da consagração
de uma intérprete que surgiu
na leva de cantoras da déca-
da de 1990, arrebatando os
ouvidos de quem gostava de
Beatles, e também daqueles
que curtiam Nando Reis ou
Cazuza. Com seu timbre
grave e cheia de atitude no
palco-fora, era quase arre-
dia de tão tímida -, Cássia
era visceral quando liberava
avoz. Cássia morreu naque-
le mesmo ano, mas deixou
um breve legado que o Brasil
não poderia ter deixado de
conhecer. Christina Fuscaldo
A voz, o carisma e a cara
do nosso Carnaval
A DONA DE UMA DAS VOZES
mais emblemáticas da músi-
ca brasileira nasceu em Por-
tugal. Mas muito nova, Car-
men Miranda (1909-1955)
aqui chegou e foi criada no
Rio de Janeiro, na época em
que o boêmio bairro da La
pa começava a ganhar seus
primeiros contornos, bares
e malandragem. Desde cedo,
cultivava o desejo de ser ar-
tista. Aos poucos, conheceu
compositores como Assis
Valente e Joubert de Car-
valho, que assina seu maior
sucesso, "Pra Você Gostar
de Mim (Tai)". Com essa
marchinha, a brasileiríssima
Carmen passou a ser apon-
tada como a maior cantora
do país e seguiu firme ru-
mo ao estrelato mundial.
Com filmes, fez fama em
Hollywood, onde viu sua
vida se esvair em remédios
e desilusões amorosas.
Adriana Alves
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ZÉ RAMALHO
Ele levou a música nordestina
para todo o país
ANTES DE ZÉ RAMALHO SE
revelar o cantador do Nor-
deste contemporâneo, o
paraibano de Brejo da Cruz
foi um dos precursores do
rock no Brasil. Em João
Pessoa, estreou no conjun-
to de baile The Gentlemen.
Em 1973, gravou "Made
in PB" no disco No Sub
Reino dos Metazodrios, de
Marconi Notaro. Ao lado
de Lula Cortes, em 1975,
produziu o duplo Paebirú :
Caminho da Montanha do
Sol (hoje o vinil mais raro
do país). Após a aventura,
eternizou canções como
"Avô hai" e "Admirável
Gado Novo", de A Pelejado
Diabo com o Dono do Céu.
Antes do estouro, marcou
presença no Festival Aber-
tura, da TV Globo, tocan-
do com Alceu Valença "Vou
Danado pra Catende", ga-
nhadora de prêmio especial
no concurso. Cristiano Bastos
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