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Iberê Camargo pinta presente do Brasil para OMS na Suíça

Maria Celina4 de outubro de 1966

Iberê Camargo Foundation

Iberê Camargo Foundation
Porto Alegre, Brazil

— Venci muitos obstáculos, lutei contra o frio e o pó, mas a satisfação de ver minha obra realizada e de ter cumprido a tarefa encomendada, foi pra mim a maior recompensa — disse a UH o pintor Iberê Camargo, que acaba de voltar de Genebra, onde executou, a pedido do governo brasileiro, um painel de sete por sete metros, para o edifício central da Organização Mundial da Saúde.

Iberê viveu cinco meses em Genebra, mas quase não a conheceu. Disse ele que levou o tempo todo idealizando e executando o painel. “Passei muitas noites sem dormir, e às vezes ficava pintado até altas horas da noite, apesar da insuficiência de luz, porque eu não precisava dela: a minha luz vem de meu interior.”

Primeiros Obstáculos

— “Deram-me uma sala na ONU para executar os estudos do painel — continuou Iberê. Apenas comecei a usar guache, tinta lavável feita à base de água, vieram dois operários suíços atapetar o piso com lençóis de plástico. Procurei dissuadi-los dessa preocupação supérflua, mas minha argumentação foi vã. Aconselhei-os, então, com ironia, a colocarem plástico também debaixo da mesa, pois muitas vezes uma gota ricocheteia. Foi incrível, mas eles concordaram.

— Dois dias depois encontrei a mesa envolvida com papel grosso e desnivelado. Perdi a paciência e arranquei o papel com violência, deixando sobre a mesa o seguinte cartaz: “Senhores, não posso desenhar sobre a superfície da lua!” Parece que compreenderam, porque deixaram de me incomodar e o cartaz ficou lá por 15 dias.

Tentativa

Revelou Iberê que fez inúmeros estudos para o painel, mas nenhum foi definitivo. Serviram-lhe apenas para encontrar o rumo de sua viagem. “A pintura é uma viagem ao desconhecido e uma tela em branco é sempre um desafio para o pintor. Preferi o risco do fracasso a reproduzir uma obra já feita.”

A Espada de Talo

— Enfrentei o painel armado com minha espada de talo de jerivá, feita e temperada pelo negro Ponciano — disse Iberê, lembrando seus dias de infância no Rio Grande do Sul, quando seu velho amigo fazia surgir, do galho de uma palmeira, uma grande espada, companheiro de muitas aventuras. Minha pintura é como a visão de criança pura, como deve ser todo ato criador.” — explicou.

Luta

Enfrentou o pintor em Genebra, uma verdadeira luta contra o frio. Disseram-lhe que o edifício tinha aquecimento, mas não era verdade. Apesar de bem agasalhado, não podia usar luvas e por isso, muitas vezes, suas mãos ficaram congeladas. “Um edifício nasce do barro, assim como o homem e por isso também tive que enfrentar o pó que vinha do edifício em construção e que me turvava a vista a maior parte do tempo.”

Eusébio

Conta Iberê que visitantes de todas as raças perguntavam-lhe o que representava sua pintura. “Se eu estava de bom humor respondia: “Não representa: é.” Se estava de muito bom humor dava uma pequena conferência: “— Você ao ver um gato pela primeira vez se surpreendeu? Você aceita as árvores? Habitue-se com as novas formas criadas, elas enriquecem o mundo, além do mundo de Deus, existe o mundo do artista.”

— Um dia estava de muito mau humor e com vontade de colocar um cartaz explicativo, quando um inglês me perguntou o nome do quadro. “Eusébio!” — gritei do alto do meu andaime, pois me pareceu um nome exótico e estranho. Sem querer fui profeta. Isso foi antes da malfadada Copa do Mundo.

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  • Title: Iberê Camargo pinta presente do Brasil para OMS na Suíça
  • Creator: Maria Celina
  • Date Created: 4 de outubro de 1966
  • Location Created: Rio de Janeiro, RJ
  • Publisher: Última Hora
  • Collection: Acervo Documental do Museu de Arte do Rio Grande do Sul - MARGS
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