Letter

CO-846 Bopp, Raul. [Carta] [1941?], Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, Brodowski, SP. [datilografado] Portinari A casa aqui ta na mesma, sem coragem de mexer nos tarecos. Já distribui troços. Ficou só uma cadeira pra você, que “defendi”. Estou muito chateado. Vou pra qualquer ponto, mas parece que é inútil, porque há barulho a alto-falante por todos os lados. Isso é uma verdadeira calamidade. Não sei como se pode viver assim. Queiroz chegou de fora. Ta na Lapa. Telefone não funcionou hoje. Também sou inimigo desse troço. Mandei um caminhão buscar a mala, que tava há dias na P.2. Vou começar a arranjar pra dar o fora daqui. Falta água. Futebol às 9, com apito. Cachorro a latir desde as 4 da madrugada até as 6. 6 e meia começa o vendedor de garrafa, vassoureiro (voz de defunto) o olha o jacaré pra hoje. Às 10, o cantor das modinhas. O rádio, então, nem se fala.O vizinho de cima passa a noite mexendo nos móveis. Desse jeito, já se vê como se vive. A Mercedes esteve hoje aqui para saber notícias do Zepe. O Zepe nem escreve mais, deve estar na veterinário, em convalescença. Pedi pra dar uma arrumação na casa de vocês, que tava muito mexida. Ao menos, ficou meio espanada. A lavadeira pergunta notícia metrópole também. Até os automóveis têm rádio. Valdemar ta amigado com mulato, levando biscoitinho. Me roubaram meu reloginho. O Léquio já voltou pra Itália. Sabe que a Eloísa Graça Aranha morreu duma peixada? Intoxicação. Desconfio que aquela criada do homem que urina por uma borracha, ta dando uma azaradinha. Só me aparece mulher gorda, ora bolas, quero lá saber de toicinhos. As boas são telefônicas, astronômicas apenas. Terra do jejum. Zebim escreveu pro Queiroz, de Colônia. Diz que Falcão ta pra embarcar. Então, até logo. Abraço no Chico. Borba já voltou. Mande notícia do Jaime. 2