Uma das últimas obras do artista e o último auto-retrato, a que Columbano tencionava acrescentar o de sua mulher, à direita, no espaço mais claro da tela, mostra-no-lo – como
acontecera já com Antero de Quental – com uma diluída presença, quase fantasmagórica, onde apenas persiste a ideia de uma imagem.
O claro-escuro está assim diluído em nuances a que o inacabado acentua a presença da pincelada clara, anulando os limites das superfícies para consequentemente desmaterializar a figura num regime de intensidades. Tal como acontecia com o Auto-retrato de 1904 o motivo olho/luneta define uma elipse que funciona como centro visual da pintura. O olho escuro, por inteiro, sugere subtilmente a presença do vidro da luneta. Em torno deste motivo central desenvolve-se também elipticamente a sombra da aba do chapéu. O rosto iluminado e com ela contrastante, mais acabado, revela uma pose altiva em que coexiste a ironia de uma quase provocatória satisfação de um destino conquistado para lá do seu tempo. (Pedro Lapa)