Abraham Palatnik

A reinvenção da pintura

THE REINVENTION OF PAINTING, de ABRAHAM PALATNIKCentro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro

Primeiras Experiências

Em 1932, com 4 anos, Palatnik sai de Natal, onde nasceu, e segue com a família para a Palestina. Realiza seus estudos escolares e a seguir estudos de mecânica e física, especializando-se em motores de explosão. Frequenta um ateliê livre de arte e passa a ter aulas de pintura e modelo-vivo. Pinta principalmente paisagens, naturezas-mortas e retratos dos seus colegas, professores e familiares. Seus primeiros desenhos são feitos a carvão e impressionam pelo traço consistente e lírico. Quando retorna ao Brasil, ainda como pintor figurativo, em fins dos anos 1940, recebe o convite do artista e amigo Almir Mavignier para visitar o Hospital Psiquiátrico Pedro II, coordenado pela dra. Nise da Silveira.

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Palatnik toma contato com obras de arte realizadas pelos pacientes esquizofrênicos da dra. Nise e não entende como aquelas pessoas, especialmente Raphael Domingues e Emygdio de Barros, produziam imagens tão densas sem jamais terem passado por uma escola de artes ou objetivarem qual o significado da expressão ‘arte’: “Pensava que eu era um artista formado. Resolvi começar de novo. A disciplina escolar, de ateliê, não servia para mais nada”.

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É fenomenal perceber que as linhas, os gestos e a expressividade dos dois artistas criam uma conexão fecunda e pertinente com os pintores canônicos da arte moderna, em especial Paul Cézanne e Henri Matisse. Criava-se ali outro rumo para o amadurecimento e compreensão das diferentes práticas que constituíram a arte moderna brasileira. Para Palatnik, foi o momento de abandonar temporariamente os pincéis e voltar-se para o estudo do cinetismo nas artes.

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Aparelhos Cinecromáticos

Em 1951 o artista produziu o primeiro Aparelho cinecromático, um dos marcos da arte cinética no mundo. Utilizando motores e luzes em sua estrutura (e a primeira obra dessa série ainda possuía barbante em seu interior), o aparelho ampliava o termo “escultura” na história da arte e, ao mesmo tempo, produzia um diálogo profícuo com a pintura. O crítico de arte Mário Pedrosa afirmou, na época, que Palatnik realizava pintura com luz.

Ainda naquele ano, a obra foi julgada para participação na 1ª Bienal de São Paulo, mas decidiu-se que não faria parte da exposição “porque não era pintura, nem escultura, não dava para encaixar”. Dias depois, em virtude da ausência da delegação do Japão, seu Cinecromático azul e roxo em primeiro movimento foi incluído na Bienal, na qual acabou ganhando menção honrosa do júri internacional.

Nos Aparelhos cinecromáticos, assim como nos Objetos cinéticos, o movimento e a participação se dão de forma autônoma, mas nas pinturas de matriz construtiva de Palatnik é a mobilidade do espectador diante delas que redefine a ideia de movimento e confronta a rigidez habitual numa pintura.

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Objetos Cinéticos

Em 1964 Abraham Palatnik deu início aos Objetos cinéticos, formados por hastes ou fios metálicos, tendo em suas extremidades placas em madeira com formas de figuras geométricas que se movimentam de maneira lenta, acionados por motores e, em alguns casos, por eletroímãs. Se nos Aparelhos cinecromáticos a parte eletromecânica não fica aparente ao espectador, nos Cinéticos parte dessa estrutura é visível.

Esta série consolida a obra de Palatnik como uma das mais importantes do mundo e a aproxima de artistas como Calder, Moholy-Nagy, Miró e Soto, ao mesmo tempo em que inaugura uma nova pesquisa sobre a prática das linguagens construtivas no Brasil. Sua obra recorre ao movimento para criar uma forma no espaço, além de ampliar as fronteiras, agora fluidas, entre pintura e escultura. São movimentos que possuem um tempo distinto daquele que experimentamos no dia a dia, pois nos oferecem a possibilidade do repouso e da delicadeza; somos suspensos no tempo e no espaço pelo encantamento que esses objetos sedutores e hipnóticos nos revelam.

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A forma como a tecnologia opera na obra de Palatnik é bem particular. O artista não abre mão da artesania, exemplificada pelo uso de materiais como vidro, barbante, cartão e hastes metálicas, elementos baratos e abundantes no comércio varejista e popular que nesta série realizam um procedimento de alto valor poético.

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O Ateliê

Lugar de concepção do novo e de obras artísticas que marcaram profundamente a história da arte, o ateliê de Abraham Palatnik comporta esta que é uma das grandes marcas da sua trajetória: o gosto pela artesania, em que duas atividades (artista e inventor) caminham juntas. O rigor evidente em sua obra é sublinhado por algo fantástico, que encanta os nossos olhos em poucos instantes. Seu ateliê nos mostra o quanto esteve à frente de seu tempo, envolvido com a tecnologia e também com a intuição. Ciência e subjetividade lado a lado. Parafusos e pregos convivendo com aparatos eletrônicos criados pelo próprio artista. Nos permite também imaginar a continuidade dessa pesquisa nos dias atuais, a sua busca permanente pelas ramificações desse estudo pioneiro que realizou. É um lugar mágico que pode ser confundido com um ateliê e, também, com uma oficina.

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Espaço para a invenção, mas fundamentalmente ali foram — e continuam sendo — realizadas operações artísticas que culminaram em um legado fundamental para a arte cinética, como é o caso dos célebres Aparelhos cinecromáticos e dos Objetos cinéticos.

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O espaço de trabalho de Abraham Palatnik é caracterizado pelo o uso de materiais industriais e ao mesmo tempo muito próximos do nosso cotidiano, aliado a um estudo radical sobre o espaço em movimento, é resultado de uma mente espantosamente criativa e de uma práxis que se encaminha pelo modo quase artesanal de conceber as suas obras,

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Design

Palatnik dinamizou a arte concreta para além de seu campo usual e integrou-a à vida cotidiana por intermédio do mobiliário. Em 1954 criou com seu irmão uma fábrica de móveis chamada Arte Viva, que funcionou até meados da década seguinte. Foram produzidos vários tipos de mesas com tampos de vidro pintados pelo artista, além de poltronas, cadeiras e sofás. A experimentação que guiava o seu trabalho no ateliê foi deslocada também para a fábrica. Na década de 1970 Palatnik e o irmão inauguraram a Silon, que produziu em larga escala objetos de design tendo principalmente os animais como tema.

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De alguma forma a obra só poderia
adquirir um sentido pleno e integral se alcançasse a vida, a rotina e o uso mais comum do cidadão. O vislumbre das possibilidades cinéticas foi além das potencialidades da luz, mas no exercício de uma pesquisa sobre as qualidades do movimento e do tempo. Em 1959 o artista produziu Mobilidade IV; em 1962 criou o jogo de tabuleiro Quadrado perfeito, e em 1965 executou Objeto lúdico.

São jogos que exibem os dois interesses do artista naquele momento:
a pesquisa cada vez mais diversificada sobre as qualidades cinéticas e a exploração de um território de multiplicidade e disseminação dessa produção na sociedade. Nas décadas de 1950 e 1960 Palatnik desenvolveu também uma série de máquinas com vinculação industrial, como a de quebrar coco de babaçu e dispositivos para a alimentação de máquinas produtoras de farinha de peixe.

A pedido do amigo e artista Ivan Serpa, desenvolveu uma tela com
preparo especial que permite melhor absorção da tinta, mantendo as cores em sua tonalidade original, evitando rachaduras.

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Pinturas

O interesse pela mobilidade se dá também na obra bidimensional de Palatnik. Nos Relevos progressivos, realizados a partir dos anos 1960, o sequenciamento dos cortes na superfície do material — cartão, metal ou madeira — cria ondas que variam dependendo da profundidade e da localização do corte, constituindo sua própria dinâmica.

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Na década de 1970 o artista realiza a série Progressões, “pinturas” formadas por faixas de jacarandá montadas ritmicamente em sequências de lâminas finíssimas. Nas Progressões com resina de poliéster Palatnik explora antes de tudo a transparência do material. Por meio de uma expansão horizontal, há um interesse cada vez maior em explorar a cor como forma de ampliar a ideia de espaço.

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Essa série apresenta uma proximidade bastante razoável com a pintura sobre vidro produzida nos anos 1950 e que foi o passo inicial para o seu envolvimento com o design e a fabricação de móveis. As Progressões também se desmembraram a partir dos anos 1990 na série W. Saiu o
jacarandá, entrou a tinta acrílica. Palatnik pinta telas abstratas que servem como “modelo” para os futuros trabalhos.

THE REINVENTION OF PAINTING, ABRAHAM PALATNIK, Da coleção de: Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
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Em um segundo estágio, um corte a laser fatia réguas com cores e formas
próximas às das telas que serviram como modelo. Depois, movimentando as varetas do “quadro fatiado” no sentido vertical, “desenhando” a futura obra, o artista constrói um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual. Esse caráter inventivo também está na série de pinturas com barbante e tinta acrílica realizada nos anos 1980.

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A pintura ganha um leve volume, e este auxilia na formação de um efeito ótico que equilibra a “tecnologia precária” do barbante com uma pesquisa rigorosa e sensível sobre o cinetismo e as possibilidades de expansão da forma e da cor graças a um duplo movimento: das linhas e do espectador. E pela primeira vez é exposta a recente série Sem título, desenvolvida desde o ano passado, na qual o artista faz uso do acrílico para criar regimes de densidade e volume com esse material. O espectador experimenta uma sucessão de formas que se modificam quase imperceptivelmente no espaço e no tempo.

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