Dom Quixote

Em 1953, o editor José Olympio encomendou a Portinari ilustrações para o Dom Quixote, de Cervantes. Dedicado à execução dos painéis Guerra e da Paz, para a sede da ONU, em Nova York, Portinari somente realiza os desenhos em 1956, quando lutava com a intoxicação pelas tintas que acabaria com a sua vida seis anos depois.

"Ilustrar de novo D. Quixote? Para que, se, entre tantos outros, Gustavo Doré e Daumier já o fizeram, e as imagens criadas por esses dois continuam ao nosso lado, como se fossem o Quixote e o Sancho em pessoa, vivos em qualquer época? Mas Portinari não se rendeu ao argumento, e aceitou a encomenda-desafio de José Olympio."
Carlod Drummond de Andrade

..."Era um momento difícil, em que ele, pintor, não podia pintar. Os sais de chumbo das tintas envenenaram-no lentamente, e o médico lhe recomendou que parasse. Portinari, que não fazia outra coisa senão pintar, refugiou-se no desenho."
Carlos Drummond de Andrade

..."A ideia de interpretar Cervantes a lápis de cor, feito menino que se diverte rabiscando caderno, fascinou-o. Mergulhou na leitura do libro e fez as primeiras cenas. Com interesse apaixonado pelo trabalho, achou que era preciso ir à Espanha, para melhor sentir a temperatura moral da história. A viagem não se fez, e Portinari deixou inacabada a obra: 21 desenhos incorporados, depois de sua morte, ao Museu da Chácara do Céu."
Carlos Drummond de Andrade

"No ano de 1956 Candido Portinari sagrou cavaleiro o lápis de cor, investindo-o de extraordinário poder artístico. Melhor tema não poderia descobrir, para tornar ilustres as armas do novo ungido, do que as aventuras do Cavaleiro da Triste Figura."
Antonio Callado

"Eram o magro lápis e o magro Quixote criando maravilhas que se diria muito superiores à sua magra força. Cervantes e seu Dom Quixote, que pegam de muda em qualquer cultura, possuem no Brasil, a partir desse livro, campina e bosque, com carneiros, moinhos e castelos, com poeta de flauta em punho e pintor de lápis em riste."
Antonio Callado

Anos depois, Drummond comentou em artigo sobre a publicação: “Criações tão preciosas, primeira e notável interpretação brasileira de parte de uma obra universal, não deviam ficar confiadas à sala de museu que elas ilustram.”

O livro para o qual José Olympio encomendou as ilustrações se concretizou em 1972, quando a então Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya, hoje Museus Castro Maya, decide levar adiante a ideia. O poeta Carlos Drummond de Andrade, que naquele ano comemorava 70 anos, foi convidado a escrever 21 glosas poéticas para acompanhar os desenhos de Portinari.