O Rinoceronte de Lisboa

Lisboa quinhentista era possivelmente a cidade mais globalizada da sua época. Esta exposição conta a história de um dos mais famosos visitantes a Lisboa neste período, um rinoceronte vindo da Índia que veio a captar a imaginação da Europa e tornar-se um símbolo dos Descobrimentos.

‏‏‎ Representação de um rinoceronte (Século XVI)Torre de Belém

A História por detrás do Rinoceronte de Lisboa

À revelia da maioria dos visitantes, existe na Torre de Belém virada para o Tejo a escultura de um rinoceronte. Este retrato representa o rinoceronte de estimação do rei D. Manuel I, o primeiro rinoceronte a ser visto na Europa desde os tempos romanos.

Northern India – Mughal Empire (1625) de William BaffinKalakriti Archives

Em 1514, Afonso de Albuquerque, fundador do Império Português no Oriente e governador das Índias Portuguesas, quis construir uma fortaleza em Diu, cidade situada no reino de Cambaia, governado pelo rei Modofar.

Foi então Afonso de Albuquerque autorizado, pelo rei D. Manuel I, a enviar uma embaixada ao rei de Cambaia, solicitando autorização para construir a fortaleza. O rei Modofar não cedeu ao pedido mas, apreciando as oferendas recebidas, deu a Afonso de Albuquerque um rinoceronte.

Acorrentado e alimentado apenas à base de ração seca, o rinoceronte e o seu treinador, chegaram a Lisboa depois de quatro meses de viagem. Desembarcaram em Maio 1515 no local onde estava a decorrer a construção da Torre de Belém.

Rhinoceros (1515) de Albrecht DürerBritish Museum

A chegada do animal a Lisboa causou muita celeuma e curiosidade, não só em Portugal como no resto da Europa, devido, sobretudo, ao seu aspecto - o rinoceronte pesava mais de duas toneladas e tinha uma pele espessa e rugosa formando três grandes pregas que lhe davam a estranha aparência de usar uma armadura. Era o primeiro rinoceronte vivo em solo europeu desde o séc. III.

Baseando-se em relatos escritos enviados por comerciantes para Nuremberga e outras partes da Europa, Albert Dürer criou a sua própria interpretação do rinoceronte. A gravura do Dürer tornou-se numa referência na Europa, e inspirou inúmeras interpretações.

A Rhinoceros Fighting an Elephant (1610) de Hendrik Hondius ILos Angeles County Museum of Art

Lembrando o rei as histórias romanas sobre o ódio mortal entre elefantes e rinocerontes, D. Manuel I tinha agora a possibilidade de verificar se tal era verdade.

Assim, foi organizado um combate entre os dois animais, a que assistiram o rei, a rainha e as suas damas de companhia, bem como muitos outros convidados importantes. Quando os dois animais se encontraram frente a frente, o elefante, que parecia ser o mais nervoso, entrou em pânico e fugiu mal o rinoceronte se começou a aproximar.

Pope Leo (about 1510–1520) de Master of the First Prayer Book of MaximilianThe J. Paul Getty Museum

Em 1515, o rei D. Manuel I decidiu organizar uma nova embaixada extraordinária a Roma, para garantir o apoio do Papa Leo X, na sequência dos crescentes sucessos dos navegadores portugueses no Oriente, e com vista a consolidar o prestígio internacional do reino.

View of Genoa (1604) de Anonymous, Italian, 17th centuryThe Metropolitan Museum of Art

Entre as ofertas encontrava-se o rinoceronte, que usava uma coleira em veludo verde com rosas e cravos dourados. A nau partiu de Lisboa em Dezembro de 1515. Ao largo de Génova surgiu uma violenta tempestade, tendo o navio afundado, perecendo toda a tripulação.

The Elephant Hanno (1516) de Raffaello Sanzio (school of)Kupferstichkabinett, Staatliche Museen zu Berlin

No entanto, foi possível recuperar o seu corpo. Ao saber da notícia, D. Manuel I ordenou que o rinoceronte fosse empalhado e enviado ao Papa, como se nada tivesse acontecido. Mas este animal não fez tanto sucesso junto do Papa como anteriormente tinha feito o elefante Hanno!

Em Portugal o rinoceronte foi imortalizado, encontrando-se representado numa das guaritas da Torre de Belém e também no Mosteiro de Alcobaça onde existe uma representação naturalista do animal de corpo inteiro, com função de gárgula, no Claustro do Silêncio.

Créditos: história

Coordenação:
Isabel Cruz de Almeida (Diretora, Torre de Belém)

Texto:
Torre de Belém

Coordenação digital:
Luis Ramos Pinto (Direção-Geral do Património Cultural)

Créditos: todos os meios
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