Preso pelas mãos a dois troncos finos de madeira, o corpo de Antonio Conselheiro pende sobre uma multidão que o aclamava. Em seu pescoço, uma corrente com um crucifixo oscilava no ar. Nessa obra criada por Adir Botelho a partir da leitura de Os Sertões de Euclides da Cunha, desenhada a carvão, o artista explora toda a potência do material criando uma atmosfera densa, carregada de um negro profundo variando ao cinza que dão formas às figuras, proporcionando junto ao branco do entorno a força e o peso do ato e da cena. Segundo depoimento do artista, publicado no livro sobre a série ‘Agonia e morte de Antonio Conselheiro’ “Há, no desenho ‘A multidão aclamava-o’, linhas que se confundem no desvario, e na indecifrável multidão que aclama Conselheiro. Não é só o conceito de espiritualidade que é importante, mas a plasticidade e a vibração.” Essa obra faz parte de uma série de 22 desenhos, feitos em 2001, sobre a agonia e a morte de Antonio Conselheiro, fechando um ciclo que Adir Botelho realizou, de 1978 a 1998, em uma série de 120 xilogravuras sobre Canudos. Antonio Conselheiro foi uma espécie de profeta peregrino, que no interior da Bahia arrebanhou uma grande quantidade de fiéis que com ele se fixou em 1893 numa região do sertão baiano conhecida como Canudos. Sua popularidade e seus feitos tornaram-se conhecidos pelas autoridades que o identificaram como um perigo e atentado ao poder oficial estabelecido. Três expedições militares foram derrotadas pelos seguidores de Antonio Conselheiro. No entanto, a quarta, num episódio sangrento, aniquilou Canudos e toda a sua população.