Esta tela foi exposta pela primeira vez no Rio de Janeiro em 1901, em uma mostra de pintura e peças de artes aplicadas e decorativas que Visconti realizou na Escola Nacional de Belas Artes. Trata-se de uma alegoria que faz referência ao descobrimento do Brasil pelo fidalgo navegante Pedro Álvares Cabral. A tela mostra o português ao leme, guiado pela figura de uma mulher cega, de longos cabelos alaranjados – personificação da Providência Divina – que posiciona seu indicador esquerdo sobre a cabeça do nauta e em sua mão direita ostenta uma tocha que ilumina o caminho da nau que cruza o Atlântico. Ao lado de Cabral, Visconti retratou três outras figuras masculinas. A primeira, posicionada em um plano inferior às outras e bastante encoberta, representa um dos navegantes que acompanharam a armada de Cabral – como Bartolomeu Dias ou Nicolau Coelho. Ao lado dessa figura encontra-se o escrivão Pero Vaz de Caminha, autor da Carta a El-Rei Dom Manuel, reconhecível pela pena que traz na mão direita. Com as mãos voltadas para o céu, está Frei Henrique de Coimbra, o celebrante da primeira missa no Brasil.
Executada durante seu período parisiense como pensionista da República brasileira, esta é uma obra do início da trajetória artística de Visconti e é caracterizada pela influência de movimentos artísticos como os pré-rafaelitas, o simbolismo e o Renascimento italiano. Suas figuras, imersas em uma bruma melancólica e decadentista, são construídas a partir de um desenho bastante rigoroso e um colorido de forte influência impressionista, em tons violetas, roxos, azuis e laranjas. A figura da Providência e o mar, assim como outros trechos da pintura, foram executados por meio da sobreposição de pequenas pinceladas de tonalidades diferentes. Esse efeito criou um vitral de cor que faz a superfície da tela pulsar. É interessante considerar a originalidade da composição, justificada na afirmativa do crítico Gonzaga Duque: “foram as indefinidas tendencias estheticas de um tempo agitado, ansiante e indeterminado nas suas aspirações, que presidiram a creação do motivo e a sua execução”.
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