Painel do retábulo da capela-mor da Sé de Viseu (1501-1506) alusivo ao tema da Adoração dos Reis Magos.
A substituição do tradicional rei mago negro, Baltazar, por um índio brasileiro é o pormenor iconográfico que mais tem contribuído para a popularidade deste painel. De facto, trata-se da primeira representação do índio na arte ocidental, decorrido que era um ou dois anos do «achamento» do Brasil.
Situado no centro da composição, Baltazar ostenta um traje onde se misturam influências europeias tradicionais - a camisa e os calções - com a novidade exótica de um toucado de penas, bem como inúmeros colares de contas coloridas, grossas manilhas de ouro nos pulsos e tornozelos, brincos de coral branco, remate de penas idênticas às do toucado, no decote e na franja do corpete, uma flecha tupinambá, com o seu longo cabo. Segura igualmente uma taça feita de nós de coco montada em prata, o que reforça o carácter exótico do conjunto.
A sua inserção num contexto religioso tão importante como é o da Adoração dos reis magos pressupõe, fundamentalmente, a ideia da cristianização dos habitantes do continente recém-descoberto, de acordo com as sugestões da carta de Pêro Vaz de Caminha, onde se relata o seu primitivismo social e a disponibilidade ética para a mensagem cristã.
Saliente-se também o facto de o Menino segurar na mão esquerda uma moeda de ouro, numa sugestão ao secular desejo de riqueza associada aos Descobrimentos Portugueses.
Integrado originalmente na segunda fiada do retábulo, este painel denuncia um investimento no realismo minucioso dos pormenores, à maneira flamenga: a textura do brocado ricamente adornado do rei mago de joelhos, em primeiro plano; o brilho dos metais; o rigor descritivo da cabana, onde figuram, para além dos animais tradicionais, um vaso de barro e uma vela acesa; o tratamento vegetalista ou a paisagem arquitetónica do fundo.
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