Apesar da polémica criada em torno da autoria desta obra, é de todo crível que um grupo encabeçado pelo pintor flamengo Francisco Henriques, ao qual se juntou o jovem Vasco Fernandes, o Grão Vasco, tenha criado este conjunto de tábuas para a capela-mor da Sé, entre 1501 e 1506.
As diversas cenas narrativas alusivas à Vida da Virgem, à Infância de Jesus e à Paixão de Cristo, não só mantêm marcas materiais da sua disposição original na estrutura do retábulo, em virtude da relação da pintura com a moldura, como foram rigorosamente programadas, de um ponto de vista formal, para a diferente altura a que o espetador as observava.
No painel Adoração dos Magos, a figura do mago negro Baltazar é substituída por um índio do Brasil. A proximidade cronológica desta representação, considerada como a primeira na arte ocidental, com a descoberta das terras de Vera Cruz dá a esta pintura um valor histórico extraordinário. E entre muitos outros exemplos possíveis, na Apresentação de Jesus no Templo, o escudo português figura sobre o pórtico que deixa entrever um fundo arquitetónico.