QUASE-CINEMA
A obra de Filipa César está num limbo, num lugar sem nome, entre o cinema e as artes visuais. Não é caso único na arte contemporânea. Muitos artistas habitam este campo, difícil e exíguo. A maior parte iniciou esta deslocação, como Filipa César, pelo vídeo, na recente tradição nascida nos anos setenta de usar uma câmara fixa para registar um acontecimento. Daí passou para a encenação de situações dúbias, cuja veracidade não consegue ser claramente avaliada pelo espectador. Desta para a produção documental, ou para o documentário construído como ficção a partir de uma matriz cinematográfica.
Em torno destas obras cinemáticas, Filipa César também produz imagens fotográficas, por vezes congelamentos de momentos fílmicos, outras, de construções a partir do plateau, da sua exterioridade, como um ensaio tomado pela memória de Godard.
Em qualquer dos casos, a sua matéria de trabalho é o campo fino, a película de que se constrói a realidade, partindo do princípio de que aquilo a que chamamos real é já uma construção editada pelo nosso olhar.
Na prática do seu campo cinemático sem nome está inscrita uma visão de que a montagem de pontos de vista constrói a diagética que define a nossa relação com o mundo. Por outras palavras, que montamos o nosso olhar como no cinema e que o espaço-tempo da vida é já definido por um modo de ver que é também interno aos mecanismos do cinema.
Delfim Sardo
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