O retrato esconde por detrás da alegria irreverente do modelo a trágica sorte do seu destino. Alexandre, que trabalhou para Manet lavando pincéis e ocasionalmente posando para ele, acabou por se suicidar com apenas quinze anos, no ateliê do pintor, na rue Lavoisier. Charles Baudelaire encontrou neste episódio inspiração para um conto dedicado a Manet, La Corde, inicialmente publicado em Le Figaro, a 7 de Fevereiro de 1864, e posteriormente editado na compilação Le Spleen de Paris.
Esta obra de juventude, cuja inspiração deriva de Caravaggio e da pintura holandesa de género do século XVII, inscreve-se numa tradição realista de representação, com parapeito de pedra a delimitar o espaço da composição. Ao tema imediato do quadro, um retrato, Manet associa um outro, a natureza-morta, constituindo as cerejas uma alegoria dos sentidos. Existe, por outro lado, um conceito de modernidade subjacente à representação do quotidiano como tema de pintura, conceito que se inscreve numa ótica baudelaireana de afirmação da realidade contemporânea. Parece certo, entretanto, que Manet tenha refeito as mãos do rapaz, já que estas evidenciam a qualidade plástica e estilística característica de trabalhos de execução posterior.
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