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Camões e as Tágides

Columbano Bordalo Pinheiro1894

Museu Nacional Grão Vasco

Museu Nacional Grão Vasco
Viseu, Portugal

Columbano pretende representar uma figura humanizada de Camões, distinto no traje, em atitude de príncipe renascentista, pouco solene mas grandioso, em pose de elegância estudada, próximo da pintura flamenga ou dos elegantes retratos de Van Dick. O contraste, dramatizado pelo cromatismo escurecido desta figura e os nus femininos das tágides, que revelam “a elegância ondulosa do mar” (T.Coelho, 1893), tornam possível esta situação, dodo que ela adquire o carácter simbólico de uma alegoria. O seu efeito ganha proporções desmesuradas pela evidência das suas dimensões reais, contrastado com uma convincente naturalidade coloquial, que aproxima o poeta das figuras mitológicas, à semelhança da humana espontaneidade da Vénus do espelho, de Velásquez.
Um estudo para este quadro apresenta um conjunto de cinco tágides e um maior contraste entre o aspeto espectral de Camões e os espaços indefinidos, em zonas de mancha, espraiados pelos elementos da Natureza, numa dimensão pictórica e atmosférica de elementos rarefeitos, presentes na areia, no mar e nas nuvens que envolvem as figuras. A escurecida paleta limita este ensaio a tonalidades de castanhos e negros, fortemente contrastados por tonalidades mais claras, e dramatiza uniformemente a pintura, tanto o poeta como a Natureza e os seus elementos. A autonomia apresentada na figura combina com a densidade cromática dos restantes aspetos e evidencia em Columbano, a prática do seu prazer de pintar. As linhas sinuosas das ninfas sublinham a dinâmica impressão dos seus gestos, longe da figuração convenientemente formal da obra final, fiel a exigências impostas pelos generais que constantemente o criticavam, e também fiel a um modelo, com quem mais tarde viria casar, em 1911, Emília (Bordalo Pinheiro).
Embora a ideia do esquema compositivo, fortemente contrastado, sugira algumas práticas barrocas, enuncia também uma linha próxima do simbolismo, explorado na literatura e sublinhado pela Torre de Belém, monumento quinhentista identificado com as viagens dos descobrimentos portugueses. Por outro lado, também a pintura de Courbet no seu atelier, uma “alegoria real” de 1854-55, e o escandaloso contraste figurativo apresentado no Déjeuner sur l’erbe, de Manet, em 63, contribuíram para a conceptualização deste quadro, que poderia ter figurado num Palácio de Camões, em projecto nunca concretizado, tal como falhara o propósito de uma publicação ilustrativa dos Lusíadas, um dos “mais dourados sonhos” do pintor nos anos 80. Esta pintura, exposta em 94 na livraria Gomes, ao Chaido, apareceu em acontecimento ampla e antecipadamente noticiado, numa tentativa de abordagem dos três temas expositivos considerados fundamentais, retrato, pintura de história e pintura religiosa, numa clara ligação com a literatura e articulação com uma galeria seriada de dramaturgos e poetas. Maria Aires Silveira

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  • Título: Camões e as Tágides
  • Criador: Columbano Bordalo Pinheiro
  • Data de Criação: 1894
  • Localização física: Museu Nacional Grão Vasco, Viseu, Portugal
  • Dimensões físicas: 242 cm x 293 cm
  • Tipo: Pintura
  • Direitos: © DGPC/ADF/Fotógrafo:Luisa Oliveira,2013
  • Material: Óleo sobre tela
Museu Nacional Grão Vasco

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