Destinada à capela do Paço Episcopal de Fontelo, Viseu, esta pintura representa a Ceia de Cristo em Casa de Marta e Maria. Cristo surge ao centro da mesa, ladeado pelo encomendante da pintura, o bispo D. Miguel da Silva (cujas armas se representam nos plintos das colunas centrais), e pelos apóstolos Pedro e João. Marta, que simboliza a Vida Activa, e Maria, que simboliza a Vida Contemplativa, figuram em primeiro plano.
Um dos aspetos mais interessantes desta obra é a relação, através da figura de Maria, com a gravura de Albrecht Dürer, «Melancolia I». Outra gravura do mesmo pintor e gravador alemão, «Filho Pródigo», teria servido de inspiração para a representação das arquitecturas na paisagem distante, que é dada a ver por duas janelas.
À direita, através de uma abertura (quadro dentro do quadro?), é representada, em primeiro plano, «Santa Marta dominando o Dragão», numa interpretação interessante da lenda de origem provençal, alusiva à Santa a quem se dedicava a capela do Paço Episcopal de Fontelo. Segundo esta lenda, Marta, uma vez aportada a Marselha com os seus irmãos Lázaro e Maria, tendo iniciado nesta região a pregação do cristianismo, libertou Tarrascon de um terrível dragão, aspergindo-o com água benta até Arles.
Pelos materiais figurativos, profundamente devedores dos retábulos monumentais da Sé de Viseu, mas com erros sensíveis de estrutura e de articulação, por um conjunto de pormenores de natureza técnica, mais expressivos ao nível do tratamento simplificado dos panejamentos e das mãos, esta pintura não se pode incluir no universo criativo de Vasco Fernandes, mas antes no do seu colaborador principal, Gaspar Vaz.
Natural de Viseu, Gaspar Vaz formou-se em Lisboa, na oficina do pintor régio Jorge Afonso e recebeu influências decisivas do Grão Vasco, com quem colaborou em diversos projetos.
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