Disarmed race

URGÊNCIA
A arte tem muitos rostos, muitas maneiras de surgir, muitas origens e expressões. Pode acontecer nas suas tipologias históricas, como a escultura e a pintura, mas também pode ser fotografia, pode ser objectos encontrados e reapropriados, filmes, textos, sons. Desde o início do século XX pode ser também manifestos, intervenções políticas e cívicas ou meramente provocatórias, acontecimentos mais ou menos teatralizados. Com Joseph Beuys, artista alemão que colocou o pensamento ecológico e a pedagogia social no centro do seu trabalho, passou a assumir a forma de conferências, intervenções, diálogos.
O trabalho artístico de Fernando Alvim, artista angolano que reparte o seu tempo entre Luanda e Bruxelas, é tudo isto. A sua arte passa das tipologias do vídeo, da pintura e da instalação para a organização de eventos, a curadoria de exposições, a promoção de espaços alternativos, a música, a organização da Trienal de Luanda – e tudo isto passa também e outra vez para o interior das pinturas.
Como artista africano que é possui em África a fonte primeira do seu material, a informação que o converte em marca política, na esteira dos modernismos africanos que se afirmaram desde a década de cinquenta. Como artista europeu que também é, localiza-se no tecido da arte contemporânea, usando os dispositivos e a liberdade de expressão que foi a principal conquista do último século da arte europeia.
Esta obra, uma das peças do autor que pertencem à Colecção da Caixa Geral de Depósitos, é uma instalação na qual um texto é projectado sobre uma pequena floresta de garrafas térmicas. O texto projectado é composto por palavras que, contrastantes e contraditórias, se lêem “murder”, “fragile”, “free”, “African”, “war”, “violent”, “beautiful”, “white”, “sick”, “American”, “vulnerable”, etc.
Por vezes, as obras de arte optam por esta capacidade interventiva, de se situarem na poética da urgência. O trabalho de Fernando Alvim vive deste sentimento de premência.

Delfim Sardo