esperado". Dilma se exaltou, Bernardo
se calou e Lula ficou apreensivo. "O
José Alencar já está sabendo disso?",
perguntou. Palocci respondeu que o
vice-presidente ainda não havia sido in-
formado. "O que eu vou falar para
ele?", insistiu Lula, pedindo aos minis-
tros que demonstrassem unidade no
dia seguinte. Na quarta-feira, quando o
IBGE divulgou seu número, soube-se
que Palocci havia errado mais uma vez.
O resultado não foi apenas "pouco
pior". Foi desastroso. Entre os meses
de julho e setembro, a economia
brasileira encolheu 1,2% e isso
fará com que o Brasil cresça 2,5%
em 2005 - o pior desempenho en-
tre todos os países emergentes
que têm algum peso
econômico.
"Isso quebra a perna do governo",
lamentou o presidente.
Quebrar a perna da economia já se-
ria grave se outras áreas do governo
viessem mostrando bons resultados.
Mas a questão é que o arrocho monetá-
rio e fiscal promovido pelo Doutor Pa-
locci levou o País novamente ao pronto-
socorro num momento em que os em-
presários já não escondem mais a insa-
tisfação. "É patético", diz
Paulo Skaf, o
presidente da Fiesp, a Federação das
Indústrias de São Paulo. “Nosso ritmo
de expansão é metade do crescimento
mundial, um terço do que fazem os paí-
ses emergentes e um quarto do que faz
a Argentina". Skaf tem toda razão. É
mesmo humilhante avançar somente
2,5% e ver o vizinho do lado, que acaba
de sair de um grande calote da dívida,
crescer o triplo, assim como a China - e
isso pelo terceiro ano seguido. Também
CRESCIMENTO
não há mais desculpas, diante de uma
conjuntura internacional tão positiva.
O Brasil caminha como um paqui-
derme, enquanto os tigres asiáti-
cos voam, os Estados Unidos cres-
cem 4,3% e até mesmo economias
"esclerosadas", como Japão e
União Européia, voltam a exibir si-
nais de vitalidade. "O Brasil, infeliz-
mente, está andando para trás”, diz
Adilson Primo, presidente da Siemens,
uma empresa que atua em 187 países.
Um dia depois da divulgação do PIB,
Primo fez questão de checar como an-
davam os outros grandes mercados da
Siemens. "Somos os últimos da fila".
Essa constatação de que o Brasil se
tornou o grande retardatário da econo-
mia global também fez brotar uma ver-
dadeira rebelião industrial, que tem
como porta-voz o empresário José
Alencar - daí a preocupação do presi-
dente Lula, ao saber do resultado do
PIB, com a reação de seu vice. Na se-
gunda-feira 28, a Fiesp reuniu, durante
quatro horas, centenas de empresários
para debater o tema "desindustrializa-
O RETARDATÁRIO DA
ECONOMIA GLOBAL
Argentina
India
Indonésia
Média
Rússia
Chile
EUA
Média
Brasil
Fonte: FMI
6%
Emergentes 6%
4,3%
Mundial 4%
2,5%
5,5%
5,2%
COMO PALOCCI MENTIU NO CONGRESSO
inevitável. Sempre que ministro
Antônio Palocci põe os
pés no Congresso Nacional, os fantasmas de Ribeirão Pre-
to começam a assombrá-lo. Na terça-feira 29, ele estava lá
para falar sobre educação numa comissão especial da
Cama-
ra dos Deputados. E ANTÔNIO PALOCCI acabou sendo per-
guntado sobre suas relações com o antropólogo Roberto
Costa Pinho, que assessorou Gilberto Gil no Ministério da
Cultura e sacou R$ 350 mil das contas do publicitário Mar-
cos Valério, no Banco Rural. Palocci afirmou que a prefeitura
de Ribeirão não havia contratado e que ambos não manti-
DINHEIRO/430-07/12/2005
9%
9%
8%
REBELIÃO NA INDÚSTRIA: Alencar
ção", algo inusitado em discussão na
sede da maior entidade industrial do
País. A estrela foi Alencar, que vol-
tou a bater pesado na tecla dos ju-
ros altos. "Enquanto nós estamos
pagando R$ 155 bilhões com o ser-
viço da dívida, falta dinheiro para
todas as coisas essenciais", disse
ele, que também fustigou o presi-
dente Lula com outra de suas frases
recorrentes. “O discurso que ganhou
as eleições de 2002 ainda não chegou ao
poder". O tom cada vez mais duro de
Alencar tem sido a senha para que eu-
tros empresários saiam da toca. Um
dia depois, também em São Paulo, exe-
cutivos de grandes multinacionais cria-
ram um movimento chamado "Quero
Mais Brasil". Esse grupo é formado