ESPECIAL 1968
DESAFIO
O hoje ministro
Franklin Martins
bateu boca com
Costa e Silva
em 1968
então jornalista Fernando Gabeira. Com
o seqüestro, Franklin, Gabeira e seus
companheiros libertam 15 presos políti-
cos, entre eles o estudante
José Dirceu
de Oliveira e Silva.
No mesmo mês em que Franklin pi-
sava o Palácio do Planalto para confron-
tar Costa e Silva, o músico Gilberto Gil
lançava, juntamente com Caetano Velo-
so e outros artistas o movimento tropi-
Onde eles
estavam
Estudantes cheios de ideais,
vários sobreviventes da
ditadura chegaram ao poder
E
m 2 de julho de 1968 Franklin Martins entrou
pela primeira vez no Palácio do Planalto. Inte-
grava uma delegação que o presidente de plan-
tão na época, o marechal
Costa e Silva, aceitara
receber após a Passeata dos 100 Mil. Ele e ou-
tro estudante, Marcos Medeiros, quase foram
barrados porque estavam sem gravata. "O embaixador de Gana
não vem aqui em trajes típicos? Esses são os trajes típicos dos
estudantes", reagiu Franklin. Após muita negociação, conse-
guiram entrar. Ao se apresentar a Costa e Silva, nova provoca-
ção: "Franklin Martins, da ex-UNE", disse ele, lembrando que
a entidade tornara-se clandestina. Na pauta dos estudantes, a
libertação dos presos políticos. Nova saia-justa protagonizada
por Franklin: "Não viemos aqui barganhar”, avisa ao presiden-
te. Até que Marcos Medeiros radicaliza: "Escuta aqui, profes-
sor, você vai ou não libertar nossos companheiros? De cara
amarrada, o marechal presidente bateu forte com as mãos
sobre a mesa: "Eu não aceito ultimato nem desrespeito!"
Três meses depois, em outubro, Franklin foi preso no con-
gresso da UNE em Ibiúna. Ao lado dele, o cearense José Ge-
noino. Alguns anos depois, Genoino estaria na guerrilha do
Araguaia. Franklin saiu da prisão na véspera do Al-5. Franklin
sairia de cena para dar lugar a Waldir, seu codinome no MR-8.
Um ano depois, estaria à frente do sequestro do embaixador
americano Charles Elbrick, ao lado do
Por SÉRGIO PARDELLAS
E HUGO MARQUES
calista. Em dezembro, após o Al-5,
Gil e Caetano acabaram presos e de-
pois seguiram para o exilio. Era um
momento em que Dilma Rousseff
não tinha muito tempo para ouvir
música. Primeiro na Política Operá-
ria (Polop) e depois no Comando de Libertação Nacional (Co-
lina), ela estava na luta armada. Em 1970, foi presa e torturada.
Quarenta anos depois, todos esses personagens encon-
tram-se em Brasília, de alguma forma vinculados ao poder.
Franklin é ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social
da Presidência e usa gravata todos os dias.
Dilma Rousseff é a
ministra da Casa Civil, gerente dos programas do PAC e uma
das principais apostas do presidente Lula para a sua sucessão.
Ela substitui José Dirceu, cassado como deputado por envolvi-
mento com as denúncias do mensalão, mas ainda dono de forte
influência no PT. O mesmo PT que foi presidido por Genoino,
hoje longe dos holofotes também em conseqüência das denún-
cias do mensalão. Algumas quadras adiante dos gabinetes de
Dilma e Franklin, Gilberto Gil é o ministro da Cultura. Na
oposição ao governo, na Câmara, está Fernando Gabeira, par-
lamentar pelo PV do Rio de Janeiro.
As conseqüências de um ano tão marcante acompanhariam
as vidas de todos eles. "Sou filho da luta contra a ditadura, neto
da luta contra o fascismo", diz Franklin.
"Aquelas idéias orientam a minha vida
política até hoje." "De uma certa forma,
o que vim fazer depois de 68, com
impactos muito importantes na minha
música e na minha atitude pode ser pro-
jetado para o que continuo fazendo ain-
da hoje”, reforça Gilberto Gil. "Somos
sobreviventes de uma geração que não
tinha medo de correr riscos para defen-
der o que acreditava”, diz Genoino. 1
EX-RADICAIS
Dilma, da guerrilha à sucessão
de José Dirceu no governo
DEPUTADO
Hoje na oposição.
Gabeira seqüestrou
o embaixador
americano
ISTOÉ/1987-28/11/2007