QUIXERAMOBIM
Ancla Estado
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positor do coronelismo nor-
destino, artífice de uma nova
organização social, inimigo
das relações escravagistas de tra-
balho, da violência dos podero-
sos contra os humildes, da igno-
rância da maioria. Essas qualida-
des, relacionadas no estudo de
tombamento da Coordenadoria
de Patrimônio Histórico Cultu-
ral do Estado do Ceará, são atri-
buídas a Antônio Vicente Men-
PATRIMÔNIO
Casa de Antônio Conselheiro é tombada
des Maciel, o Antônio Conse-
lheiro (1830-1897).
Por esses motivos, e também
porque Conselheiro nasceu e vi-
veu até os 27 anos numa modes
ta casa em Quixeramobim, o go-
verno do Ceará resolveu tombar
nesta cidade a residência do li
der religioso - andarilho modes-
to que enfrentou o poderoso
exército
republicano em Canu-
dos na Bahia, no final do século
19, à frente de sua comunidade
devota instalada nas 5,2 mil resi-
dências da vila de Belo Monte.
Para formalizar o tombamen-
to da casa do Conselheiro, o mi-
nistro da Cultura, Gilberto Gil, e
a secretaria de Estado da Cultura
do Ceará, Cláudia Sousa Leitão,
reúnem-se amanhã em Quixera
mobim, sacramentando essa re-
generação histórica do persona-
gem. Um representante do go-
verno do PT e uma representan-
te do governo do PSDB, inimigos
políticos declarados, fazem ligei-
ro armisticio sob a bandeira do
CLIENTE: GILBERTO GIL
VEÍCULO: O LIBERAL - BELÉM
SEÇÃO: CARTAZ/VARIEDADES
10.01.2006
DATA:
Conselheiro - outrora apenas
um beato louco cercado de ja-
gunços que teria tentado abalar
os alicerces do Brasil civilizado,
na versão oficial
A casa em Quixeramobim
onde viveu o líder sertanejo ser-
via ao mesmo tempo de comér.
cio e morada. É construção mo-
desta, típica das cidades do inte-
rior cearense. Possui cinco por-
tas frontais e armação de loja e
balcão. A família Maciel a ven-
deu por 2.223 mil réis para salvar
dívidas contraídas por Vicente
Mendes Maciel, pai de Anto-
nio Conselheiro
A casa, após o tombamento,
será transformada no Memori-
al do Sertão Cearense, espaço
para eventos, exposições, pa-
lestras, e também local de pes-
quisa e estudos. Até 1949, a ca-
sa se manteve quase com a ar-
quitetura original
, mas o pro-
prietário nos anos seguintes fez
modificações. Em 1953, escon
deu o telhado feito de telha de
barro artesanal, mas fotos tira-
das pela revista "O Cruzeiro"
em 1952, permitiram a renova-
ção do prédio tal como ele era.
Em Quixeramobim, a casa
do Conselheiro tornou-se,
com o passar dos anos, palco
de histórias de assombração.
Conta-se que abriga almas de
outro mundo e esconde tesou-
ros enterrados em vasos de
barro, histórias que se incor-
poraram ao folclore local.
Atualmente, a casa encontra-
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de manto e bastão.
Saga - Líder messiânico que
prometia aos seus súditos uma
terra ideal com "rios de leite e
barrancas de cuscuz" Antônio
Conselheiro teve diversos no-
mes, segundo o historiador José
Calasans, o maior especialista no
conflito de Canudos. Quando
chegou aos sertões da Bahia e do
Sergipe, em 1874, aos 44 anos,
apresentava-se como Antônio
dos Mares. Depois, Santo Antô-
nio Aparecido, Santo Conselhei-
ro, Bom Jesus Conselheiro.
Sua meta, na peregrinação
pelos sertões, era erguer 25 igre-
jas. Não se sabe ao certo quantas
conseguiu, mas pode ter chega-
do perto do objetivo. Construiu
também cemitérios e cisternas
de água. Em 1882, começou sua
via-crúcis: o arcebispo de São
Salvador da Bahia, d. Luis José
dos Santos, ordenava que os vi-
gários impedissem suas prega-
cões. "Condenava o luxo, preco-
nizava o jejum, verberava contra
a mancebia", escreveu José Cala-
sans. Chegou a reunir 5 mil se-
guidores em sua vila, Belo Mon-
te, destruída pelo Exército após
três incursões.
se em razoável estado de conser-
vação, segundo o órgão do Patri-
mônio Histórico. Há uma amea-
ça de queda do oitão da fachada
leste, atualmente escorado por
viga de ferro transversal, mas a
secretaria prevê imediata recu-
peração da estrutura.
A vida de Conselheiro, abor-
dada num dos maiores clássicos
da literatura brasileira, "Os Ser-
tões", de Euclides da Cunha, ali-
menta há um século a cultura
nacional. Há alguns anos, o di-
retor José Celso Martinez Correa
começou a contar em cinco par-
tes a sua versão da saga de "Os
Sertões, mostrando o nascimen-
to de
Antonio Mendes Maciel
em Quixeramobim, em meio a
uma guerra entre as famílias Ma-
ciel e Araújo
O pai do Conselheiro educa o
filho em Quixeramobim, com ri-
gidez. "Ele quer que o filho esca-
pe ao destino trágico da família
envolvida nessa disputa feudal",
disse o dramaturgo José Celso
Martinez Corrêa, que crê que a
história dos Sertões - a da crimi-
nalização dos excluídos - se re-
pete continuamente. Após a
morte do pai, Conselheiro se ca-
sa com uma mulher que o traio
Em março de 1897, seus se-
tempo todo. A cada traição ele guidores derrotar a terceira ex-
muda de cidade, evitando matá- pedição, liderada pelo sanguiná-
la e ao amante, como manda a rio coronel Moreira César e com
lei do sertão. Até que, em Sobral, 1,3 mil soldados. Canudos fica
ela o abandona por um sargento conhecida como um reduto mo-
da polícia. Ele então some por narquista. Em outubro de 1897,
um longo período e quando rea- Canudos é derrotada - Conse-
parece já é o andarilho magro, Theiro morreu antes, de diarréia.
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