O compositor com sua mãe, Silvia Saint Ben Lima, em registro de 1969
(NO SAGUÃO DO AEROPORTO, ELE COMEÇA
CONTANDO, EMPOLGADO, SOBRE O CORUJÃO
DA POESIA.) VOCÊ LÊ POESIA?
Leio. Mês passado comemoramos lá os 102 anos
de Jorge Luis Borges, o poeta argentino. Fize-
mos uma hora só de Borges. Levei um livro, todo
mundo leu Borges, uma coisa maravilhosa. Só
pra ficar nos Jorges, já fizemos Jorge de Lima,
grande poeta brasileiro, alagoano, médico que
se apaixonou pelo Rio de Janeiro.
VOCÊ SEMPRE GOSTOU DE LER? NOS ANOS
70, CITAVA DOSTOIÉVSKI EM MÚSICAS...
Sempre, sempre. Ganhei um livro de sonetos
de Shakespeare que é a coisa mais linda, rapaz
O cara era fodaço, genial. Os sonetos são todos
amorosos, têm coisas sarcásticas, mas é todo
amoroso, ele devia ter uma musa maravilhosa
Leio as biografias dos meus musos, os poetas
brasileiros. Oswald de Andrade, puta que pariul, os
versos dele, sonetos, tudo malandreado, ele já era
moderno, estava à frente. Na minha adolescência
já lia coisas difíceis, lia e decorava textos em latim.
Sabia São Tomás de Aquino, a Suma teológica,
coisas que aprendi no seminário.
latim por causa de São
Tomás de Aquino [pro-
nuncia "Aquino", com trema). Ele tem uns textos
lindos, a Suma teológica... Saber que um santo
como ele era um alquimista famoso... É demais,
pra você ver, São Tomás de Aquino escreveu uma
coisa simples, bonita e poderosa (fala em tom
recitado): "O mundo é um suceder de níveis, desde
a matéria inanimada até a suprema beatitude do
ser eterno, que é Deus". Ele diz que a primeira lei
natural é a conservação da vida - todo mundo
quer conservar a vida -, depois a geração, que
é ter filhos e educar os filhos, e depois o desejo
VOCÊ FOI SEMINARISTA?
de verdade. O único país que aproveitou bem a
Fui, fiz dois anos de seminário, aqui no Rio. Aprendi teologia de São Tomás de Aquino foi a Alemanha.
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