Esta pintura, executada por Lasar Segall em 1936, é um belo exemplo da fase que se inicia nos primeiros anos da década de 1930 e vai até 1945, e que tem o "Navio de emigrantes", de 1941, como sua obra mais representativa. Caracterizada por uma solidez formal, muito provavelmente proveniente de suas experimentações com a escultura nos anos 1930, e uma densidade matérica acentuada pela adição de areia e serragem às tintas, esse período lida com uma temática de cunho social bastante marcada pela experiência da II Guerra Mundial, assim como seus antecedentes e consequências.
A composição está organizada a partir do ritmo imposto pelas linhas retas e diagonais formadas pelas cabeças das cinco figuras representadas. As mãos, assim como o véu que cobre a cabeça da figura feminina central, agem como elementos de junção compositiva da pintura, e criam assim pontes formais entre as personagens. As duas figuras masculinas da esquerda, em particular a mais extrema, lembram as feições de Segall, enquanto a figura central as de Lucy Citti Ferreira, pintora, modelo e colaboradora de muitos anos do artista. As duas figuras da direita, o garoto que nos encara frontalmente e o velho senhor de olhos apagados, não são identificáveis. No entanto, o velho senhor de longas barbas brancas é uma figura recorrente na obra de Segall, basta lembrar as pinturas "Meus avós", de 1921, ou então "Velhice", de 1924, para perceber que estamos aqui diante de uma imagem que para o artista carregava uma profunda carga simbólica.
O que o artista disse sobre seu "Navio de emigrantes" poderia facilmente se aplicar também a esta pintura: “Despojei-o de todo realismo objetivo para fazer dele um símbolo”. Não se trata aqui de retratos objetivos de emigrantes, mas sim de símbolos da condição incerta daquele que emigrou, ou foi exilado ou exilou-se; daquele que não mais habita sua terra natal, daquele que agora já não mais pertence, condição essa que foi vivida por Segall, e narrada por ele em sua pintura. É interessante notar um certo retrocesso experimental nas obras desse período. Se forem consideradas suas obras anteriores, as pinturas expressionistas ou até mesmo as obras do período dito brasileiro, vê-se que nos anos 1930 e 1940 o artista retornou a formas mais corretas e modelados mais tradicionais. Pode-se vincular ao período em que Segall viveu em Paris, entre 1928 e 1932, as origens daquilo que poderia ser chamado de conservador. Ali sem dúvida nenhuma entrou em contato, assim como vários outros artistas do período o fizeram, com as obras da fase neoclássica de Picasso, que claramente influenciaram sua produção.