Uma das obras mais conhecidas de Oscar Pereira da Silva, "Escrava romana" coloca o espectador diante de uma escrava do Império Romano virgem de 21 anos, como a placa pendurada em seu pescoço supostamente indica. A virgindade da jovem aumentaria seu valor de mercado, um atrativo para quem se interessasse em adquiri-la. No entanto, sua pose parece contradizer a informação da plaqueta: como uma virgem poderia ser tão provocadora, fluente na arte da sedução e ter um olhar tão insinuante? A tela foi executada por volta de 1894, momento em que a escravidão no Brasil ainda era uma memória extremamente recente – ela havia sido abolida em 1888. Portanto, sem dúvida os observadores da época, na maioria (quando não na totalidade) homens e brancos, traçariam paralelos entre a escrava negra, utilizada para saciar os desejos de seus senhores, e a escrava romana, branca, que vende ao espectador sua virgindade.
É interessante notar que abaixo da assinatura do artista há uma pequena inscrição, descoberta recentemente, quando a obra foi limpa por ocasião da nova disposição do acervo da Pinacoteca; nela se lê: “2º quadro do mesmo autor”, ou seja, trata-se de uma segunda versão. Sabe-se que o artista pintou algumas de suas obras mais de uma vez pelos mais diversos motivos. A primeira versão de "Escrava romana" encontra-se hoje em uma coleção particular.
Pereira da Silva foi um dos pintores mais populares da São Paulo do início do século XX. Nascido em São Fidélis, em 1880 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou com Victor Meirelles, Zeferino da Costa e Chaves Pinheiro na Academia Imperial de Belas Artes. Foi agraciado com o Prêmio de Viagem à Europa em 1887, mudando-se para Paris, onde estudou com Léon Gérôme (1824-1904) e Léon Bonnat (1833-1922). Voltou ao Brasil em 1896 e, por motivos pouco claros, estabeleceu-se em São Paulo, e não no Rio de Janeiro, como seria o esperado. Aqui desenvolveu a maior parte de sua obra: inúmeras paisagens, retratos e pinturas de gênero; painéis decorativos para importantes espaços da cidade, como o foyer do Theatro Municipal; pinturas históricas para o Museu Paulista e sacras para as igrejas da Consolação e de Santa Cecília. Foi professor de toda uma geração de pintores e em 1897 fundou o Núcleo Artístico, que depois se transformaria na Escola de Belas Artes.
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