Para Sir Joshua Reynolds, o mais celebrado pintor da Inglaterra do século XVIII, teórico e fundador da Royal Academy de Londres, também os retratos não deviam apenas possuir semelhança com a realidade visual, mas estimular a imaginação e a reflexão, alcançando uma verdade moral por meio das emoções. O quadro da Casa Museu Eva Klabin é um estudo para o retrato de Lady Caroline Howard, aos sete anos de idade, conservado na National Gallery de Washington, datado de 1778. Reynolds utilizou na composição a sua ampla cultura figurativa para competir com as qualidades da grande arte greco-romana e do Renascimento italiano, ainda que o grande modelo do artista sejam as telas de Van Dyck do período inglês. O pintor quis também incluir no quadro elementos que elevassem a representação além do nível simplesmente descritivo. No quadro de Washington, a menina aparece ao lado de uma moita de rosas relacionadas, na mitologia, a Vênus e às Graças, e Reynolds pode ter aludido aos seus atributos, Castidade, Beleza e Amor, como qualidades ideais que a imagem deveria sugerir. O artista captou algo da personalidade da menina no contraste entre a cor prateada da veste, o branco vaporoso da touca e o preto acetinado do xale, na expressão atenta do rosto atraente, no olhar introvertido e na tensão revelada no gesto da mão esquerda fechada. É possível ver na pose da criança tocando as flores com circunspeção ainda uma alusão moral à dor que se esconde nos prazeres da vida, como os espinhos entre as folhas das rosas.
A tela da Casa Museu Eva Klabin documenta as excepcionais qualidades de Reynolds em penetrar no mundo da infância, que colocam os retratos de crianças do pintor inglês entre as criações mais originais da arte da época em que a Filosofia das Luzes se abria para uma compreensão mais profunda dos temas da educação e da formação da personalidade individual dos homens e das mulheres.
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