Após a primeira campanha de revestimento de estações de Metropolitano, levada a cabo entre o final dos anos de 1950 e o início da década de 1970, com a extensão da rede, a partir de 1988, o azulejo foi de novo convocado como material privilegiado para o revestimento e decoração de grandes superfícies murárias nas estações. Nesta nova fase, o Metropolitano dirigiu convites a artistas de referência no panorama artístico nacional para conceberem o revestimento integral de estações e já não apenas de áreas circunscritas como acontecera com os projetos encomendados a Maria Keil (n. 1914 - m. 2012) e Rogério Ribeiro (n. 1930 – m. 2008). O trabalho que Júlio Pomar (n. 1926) concebeu para o Altos dos Moinhos insere-se neste novo conceito, que podemos designar como "estação de autor". Os painéis do Museu Nacional do Azulejo, com figuras maiores das letras portuguesas, Luís de Camões (n. ca. 1524 - m. 1580) e Fernando Pessoa (n. 1888 – m. 1935), são duas das representações que podem ser vistas nesta estação, juntamente com outras figurações dos mesmos poetas e ainda de outros autores de referência, Barbosa du Bocage (n. 1765 – m. 1805) e José de Almada Negreiros (n. 1893 – m. 1970), este último também desenhador e pintor. A figuração de Camões foi concebida a partir da iconografia de época, surgindo na estação também inúmeras referências ao imaginário de Os Lusíadas. Já a de Fernando Pessoa recorreu a variações sobre o poeta e os seus heterónimos, representando-o a engraxar os sapatos, a descer as escadas ou, como no caso do presente painel, a ler o jornal. Nesta obra, Júlio Pomar inseriu-se intencionalmente na tradição azulejar portuguesa, desde logo na utilização da pintura a azul sobre branco – usada como exclusiva apenas entre 1690 e 1750, mas muito marcante em termos de imaginário nacional – e na recuperação da memória das figuras de convite setecentistas. As suas representações, criadas em papel e transpostas, à escala exata, para suporte cerâmico, foram desenhadas, de forma gestual, a marcador, permitindo uma expressividade próxima do grafitti, no que pode ser visto como uma antecipação da sua presença nas extensas superfícies brancas deste espaço público.
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