Esta extraordinária obra, uma das mais importantes da coleção do Museu Nacional do Azulejo, é um documento iconográfico único para a história de Lisboa, pois mostra-nos a mais completa vista da cidade, a partir do rio Tejo, antes do Terramoto que a destruiu em 1755. Através da contemplação deste painel, podemos observar edifícios e locais que resistiram a este cataclismo, mas também outros que desapareceram. O Castelo de S. Jorge, o Mosteiro de S. Vicente de Fora, o Paço da Ribeira, o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, entre outros dos mais importantes edifícios da cidade, encontram-se aqui representados, permitindo a imediata identificação da capital portuguesa. A autoria desta obra tem vindo a ser associada a um dos primeiros Mestres da azulejaria Barroca, o pintor, de origem espanhola, Gabriel del Barco (n. 1648 - m. ?). Com cerca de 23 metros de comprimento, nele estão representados 14 km de costa, de Algés a Xabregas, retratando para além de palácios, igrejas, conventos e casas de habitação, toda uma vivência que pode ser observada desde as áreas mais densamente povoadas, aos campos e arrabaldes de Alcântara ou Belém. Se estivermos atentos, podemos sentir o movimento da cidade, a agitação do Mercado da Ribeira, a atividade de um moinho de maré, o buliço dos coches e liteiras, todo um mundo eternizado em pintura sobre cerâmica. Outrora aplicado numa, ou mais salas, do palácio dos Condes de Tentúgal, na Rua de Santiago, em Lisboa, estaria disposta como silhar, ou seja, colocada nas paredes, junto ao rodapé, e interrompida por portas e janelas. Proporcionaria a vista de uma ave que sobrevoasse a cidade ou, se quisermos, o olhar de Deus, dotando o observador de uma visão de Lisboa "ao Divino". A desproporção de perspetiva notória em alguns dos elementos presentes no painel poderá ter ficado a dever-se à importância relativa dos edifícios nele retratados e à própria integração no seu espaço de origem. Parece, contudo, evidente que o Palácio Real e o Terreiro do Paço, aqui muito desproporcionados, deveriam encontrar-se na parede principal do local de aplicação, remetendo para o seu papel de centro do poder e da cidade, residência dos Reis de Portugal, e eixo a partir do qual toda a vida de Lisboa se articulava. No extremo direito deste painel podemos observar o convento da Madre de Deus onde hoje se encontra instalado o Museu Nacional do Azulejo.
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