A obra, que tem como tema central a Adoração do Menino, é considerada um dos mais notáveis trabalhos do artista e data do ano de 1505. Na cartela, situada na base da tábua, pode ler-se a inscrição «VICTOR CARPATHIUS/MDV».
Os doadores, seguramente individualidades destacadas da sociedade veneziana, são representados de maneira realista, à escala das personagens sagradas. Esta forma de integração na cena é testemunho de uma prática figurativa generalizada a partir do século XV e que reflete a penetração de valores humanistas na arte. O Menino Jesus, despojado de atributos divinos, assume, no centro da composição, uma dimensão terrena. O pintor representa o episódio recorrendo a uma sobreposição de planos narrativos autónomos que, definidos num cromatismo rico e luminoso, desenvolvem o espaço em profundidade. A perspetiva é sugerida através da alteração de escala das figuras, constituindo-se o plano intermédio pelo alinhamento dos reis magos a cavalo. Um esbatimento cromático progressivo conduz o olhar do observador até à ténue diferenciação que delimita a fronteira entre céu e terra. A complexidade da composição, onde se combinam verticais e diagonais harmoniosamente posicionadas e agrupamentos decorativos tratados com minúcia, remetem, por sua vez, para uma aspiração fundamental da época: a procura de equilíbrio.