O personagem evocado na pintura é Giotto di Bondone (1266-1337), o grande artista da primeira fase do Renascimento italiano, nascido no pequeno vilarejo toscano de Colle Vespignano, numa família de pastores. Quem nos conta sua história é Giorgio Vasari (1511-1574), autor de "As vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos", quem considerava Giotto o salvador e restaurador da arte da pintura que, para ele, estava em decadência desde o tempo dos romanos.
De acordo com Vasari, Giotto tinha como passatempo riscar esboços dos animais que pastoreava sobre as rochas dos campos, utilizando a ponta afiada de uma pequena pedra. Certo dia, o pintor Cimabue (c. 1240- 1302) percorria o trajeto entre Vespignano e Florença quando viu o garoto desenhando. O mestre ficou encantado com as habilidades naturais do menino e o convidou para trabalhar com ele. Ainda segundo Vasari, em pouco tempo de aprendizado o jovem pastor superou o mestre na arte do desenho, e se tornou o mais importante artista daquele período.
Na tela de Pereira da Silva, vê-se o jovem Giotto, então com dez anos, sentado sobre uma pedra, com um cajado na mão esquerda e um pedaço de giz na direita. Ele está desenhando uma das cabras que pastoreia, em uma postura dura, posada. Pereira da Silva não é particularmente fiel ao texto vasariano, já que troca a pedra afiada por um giz e os carneiros por cabras. O garoto carrega uma flauta de pã e traja calças e sandálias de couro e longas meias, fazendo-o parecer com uma das clássicas representações de São João Batista menino. Nesta tela fica bastante evidente a preponderância do desenho sobre o colorido, que se limita, quase em sua totalidade, a azuis e verdes frios. Essa coloração suavizada, diluída, é por vezes considerada como dura e inexpressiva.
Você tem interesse em Visual arts?
Receba atualizações com a Culture Weekly personalizada
Tudo pronto!
Sua primeira Culture Weekly vai chegar nesta semana.