"O encontro de Iberê com Guignard assume uma importância substancial em sua vida. Em depoimento, confirma que fez dele seu professor particular. [...]
Ainda em 1942, Iberê participa ativamente de suas aulas e, a partir delas, sua produção aponta transformações. Luz, cor e transparências irradiam de seus desenhos, aguadas e óleos. Sob insistência de Guignard, as experimentações gráficas fundamentais para o exercício de sua gravura ganham corpo. Muitas delas vicejam por meio das pontas secas ou no emprego do buril, recursos que favorecem a aprendizagem de incisões mais firmes sobre a chapa de cobre. Nesta, entrecortam-se amplas possibilidades de grafismos, ora curtos e constantes, como em Jardim Botânico 1 [...]. Todas essas obras já deixam transparecer o que sempre será uma constante na obra de Iberê, a idéia de síntese: 'Eu sempre prestei atenção a esta síntese da pintura dos clássicos [...] Para mim, uma imagem tem que alcançar a plenitude de sua possibilidade de expansão, porque se aprisiono assim num contorno regular, fica uma figura, a meu ver, mesquinha, descritiva'.
Diversas matrizes referentes a essa época apresentam-se trabalhadas ao mesmo tempo em frente e verso. Essa escolha do artista comprova sua insistência em multiplicar experiências e considerá-las nesse momento, mesmo assinadas, como provas experimentais [...].
Muitas matrizes desse momento foram acondicionadas por Iberê em papel, para guardá-las, e em sua parte externa ele inscreveu: 'Fase aprendizado', evidenciando consciência dessa etapa de seu trabalho."
ZIELINSKY, Mônica. Iberê Camargo: catálogo raisonné. Cosac Naify: São Paulo, 2006. p. 39-40.