O Monumento aos Burgueses de Calais, que ocupou Rodin durante onze anos, evoca um episódio da Guerra dos Cem Anos, relatado pelo cronista Froissart. A história narra o patriotismo e a coragem de seis dos mais notáveis cidadãos de Calais, que voluntariamente se ofereceram como reféns ao rei Eduardo III de Inglaterra, para que levantasse o cerco da cidade e salvasse as populações famintas. Rodin retrata estes mártires num momento crucial, quando se dispunham a abandonar a Praça do Mercado a caminho da execução. Cada um destes homens tem uma identidade física e características psicológicas próprias, que explicam as suas diferentes atitudes face ao martírio.
Este exemplar em bronze da figura de Jean d’Aire é uma das seis personagens referenciadas. É ele que leva as chaves da cidade nas suas mãos vigorosas. Entre todos, ele é o mais determinado, embora os seus olhos revelem tristeza. A veste monacal que enverga é um reflexo da verticalidade do seu carácter. Além de ser a figura mais monumental do grupo, Jean d’Aire é também a mais popular e a que conheceu maior número de réplicas. Auguste Rodin conservou esta peça na sua posse até à sua morte, em 1917, após a qual Calouste Gulbenkian a adquiriu.