A igreja do Convento da Madre de Deus de Xabregas, fundado pela
rainha D. Leonor em 1509, reunia, nos seus três altares, alguma da melhor
pintura existente em Portugal. Nos altares laterais encontravam-se
retábulos flamengos e, no principal, inscrevia-se um enorme conjunto
de pinturas (uma delas, datada de 1515) executado, muito provavelmente,
por Jorge Afonso, pintor régio e chefe de uma oficina onde se formaram
e trabalharam alguns dos mais importantes pintores nacionais da primeira
metade do século XVI. Reúnem-se aqui sete painéis que se julga terem
constituído parte essencial desse retábulo: seis pinturas com cenas da Vida
da Virgem, sugestivamente organizadas como numa estrutura retabular,
e uma alusiva à instituição da Ordem das Clarissas. A sua importância
deve-se tanto à qualidade das pinturas como ao facto de nelas terem
sido ensaiadas composições e modelos iconográficos e artísticos que
terão tido um grande eco na arte portuguesa. O limitado espaço da
igreja confrontava as monjas com figuras pintadas quase em tamanho
natural, mas, três décadas depois, D. João III decidiu criar uma igreja mais
ampla e o retábulo foi apeado, sendo recolocado no coro juntamente
com retratos do rei e da rainha, iniciando-se uma série de vicissitudes
que leva a que as pinturas sejam repintadas e redimensionadas, tornando
difícil uma ideia completa do seu aspeto original. Elas são, contudo, bem
elucidativas dos recursos da melhor pintura manuelina portuguesa, aliando
a perfeição técnica e a capacidade de composição à monumentalização
das figuras, sem descurar a capacidade narrativa e descritiva da imagem,
mesmo nos detalhes e adereços.