Painel do retábulo da capela-mor da Sé de Viseu (1501-1506) alusivo ao tema da Última Ceia
Com a última refeição que Jesus Cristo tomou com os apóstolos em Jerusalém iniciava o retábulo em questão o ciclo eucarístico. Pelo seu alto significado litúrgico e místico, a Última Ceia.
As liberdades interpretativas dos artistas, com o consentimento tácito das autoridades eclesiásticas, estão na origem da introdução de algumas variantes iconográficas.
Uma gravura serviu provavelmente para a inspiração da composição e algumas figuras da Última Ceia, que tem afinidades evidentes com a obra figurando o mesmo tema que integrou o retábulo-mor da igreja do convento de São Francisco de Évora. Esta obra oficinal foi dirigida pelo pintor luso-flamengo Francisco Henrique entre 1508-1511.
Neste painel, Cristo e os Apóstolos reúnem-se em redor de uma mesa circular na qual figura, além dos elementos eucarísticos habituais, o pão e o vinho, um prato com uma ave, ao invés do cordeiro da tradição judia que se representa também com alguma frequência.
Os erros anatómicos, sobretudo a notória incapacidade de representar as figuras de costas e as carnações de correta estrutura e modelação, a pobreza do fundo - um simples pano preto ladeado por duas janelas, uma das quais sem portada -, mostram uma vez mais o mérito desigual dos artistas que trabalharam nesta empreitada. Apesar destas incapacidades técnicas, da ausência de peso e corporalidade das figuras, é bem visível o extraordinário modelado do manto de Judas, simbolicamente representado num amarelo intenso, ou do rigor técnico na figuração de pormenores (a luz sobre o cálice, os copos de vinho e o seu reflexo sobre a toalha branca) evidenciando um essencial desejo de realismo