O retrato com figuras em tamanho natural enquadrado por um rectângulo com fundo opaco, que se fecha em torno da retratada, foi moda no final do século XIX e princípios do XX, como nos esplêndidos exemplos de Whistler, Klimt ou J.S. Sargent que se apropriaram desta tradição académica para introduzirem valores modernos. A figura branca da retratada recorta-se sobre o fundo e chão cuja inclinação frontal do plano, que impõe uma moderna sobreposição do pictórico a um espaço de representação naturalista, permite uma correspondência e circulação do enquadramento global, servido por uma paleta rica em cor. O sombreado do lado esquerdo do vestido vem activar a volumetria e a sugestão de qualidade do tecido que em grande parte a silhueta branca dilui e planifica, aspecto profundamente moderno. A carnação e o conjunto da figura revelam um bibelot em porcelana, metáfora de um gosto fim-de--século que Eça de Queirós descreveu e António Ramalho, seu admirador confesso, pintou enquanto retratista primeiro da sua geração, se exceptuarmos o particularíssimo caso de Columbano. (Pedro Lapa)
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