Relicário de faiança portuguesa policromada e esmaltada. A figura representa, em busto, um santo bispo com uma mitra debruada e decorada com motivos vegetalistas verdes, contornados a manganês. Rosto e olhos incisos, sobrancelhas castanhas, nariz proeminente e barba bifurcada, marcada por tonalidades de castanho. Traja casula, de gola azul, com motivos florais colocados sobre fundo de aguada azul. No tronco ostenta uma cavidade elíptica, orlado com volutas azuis, para colocação da relíquia. Não havendo atributos iconográficos nem legendas, torna-se impossível determinar que Santo Bispo evoca. A parte posterior da peça não apresenta decoração, encontrando-se apenas esmaltada a branco. O relicário assenta sobre base retangular ornada com filites de azul.
Os relicários em faiança policromada, vidrada e cozida, seguramente executados com recurso a moldes e posteriormente afinados antes da cozedura, são os mais raros de todas as tipologias materiais, devendo destinar-se a oratórios privados ou a sacristias e não tanto a espaços públicos.
Na maioria dos casos apresentam suportes em metais preciosos, como o ouro e a prata, as madeiras entalhadas e ricamente douradas e policromadas, muitas vezes integrando estruturas retabulares. Por vezes, usavam-se também o barro e a terracota, devido à sua enorme plasticidade e facilidade de manuseamento. Estes materiais eram usados nas igrejas, capelas, oratórios e sacristias de comunidades monásticas, como no mosteiro cisterciense de Santa Maria de Alcobaça, em que floresceu uma importantíssima tradição barrista; ou ainda em diversas casas religiosas de frades menores, fugindo, deste modo, ao uso “interdito” de materiais preciosos.
A produção de esculturas em barro policromado e vidrado, nas quais se incluem esculturas religiosas, parece ter recebido influência das majólicas italianas e em especial de trabalhos como os de Andrea dela Robbia, acolhidos em Portugal com muito agrado. Em Lisboa, no primeiro quartel do século XVII, são diversas as oficinas de azulejaria e louça que tinham capacidade de produção de estatuária em barro policromado e vidrado, apesar de raramente o fazerem.
Contudo, as características morfológicas, o tipo de vidrado e pigmentos empregues e os elementos decorativos, remetem este relicário para a oficina da família Brioso, de Coimbra, cuja atividade se estende por todo o século XVIII.
Esta peça, por comparação à que se encontra na coleção o Museu Nacional de Machado de Castro, deve pertencer ao período atribuível a Manuel da Costa Brioso, podendo ser datada das décadas de 70 ou 80 do século XVIII. A aproximação à data de 1780 deve-se ao facto de por volta deste ano se demonstrar um salto qualitativo na produção daquela oficina.
É o prestígio da Oficina Brioso, que permite fundar em Coimbra, em 1784, a Fábrica de Santa Clara, associando-se a esta Domingos Vandelli, cientista e professor na Universidade de Coimbra.