S. Carlos Borromeu

Obra isolada nas coleções deste museu, já que provém do antigo Arquivo das Congregações Religiosas, de Lisboa, representa S. Carlos Borromeu dando a comunhão a um pestífero. Trata-se de uma pintura do século XVIII, de autor italiano não identificado.
A Contra-Reforma instituiu a devoção a novos santos missionários, heróis e mártires de uma cristandade que se pretendia reforçada e vitoriosa sobre a irremediável cisão do protestantismo, as guerras religiosas e a iconoclastia.
Um número considerável de sacerdotes e doutrinadores das congregações geradas na esteia do rigor dogmático do espírito tridentino é dignificado com a canonização papal e inscrito no vasto reportório hagiográfico do calendário litúrgico.
S. Carlos Borromeu, oriundo de uma família nobre e sobrinho do Papa Pio IV, foi arcebispo de Milão, cardeal, e um dos principais defensores da Contra-Reforma até à sua morte, em 1584. Durante a peste que assolou Milão em 1575, desempenhou um papel fundamental, tendo cuidado heroicamente dos pestíferos, organizado lazaretos e requisitado frades e padres como enfermeiros. A sua invocação substituir-se-á à dos santos protetores da peste dos séculos anteriores, respetivamente S. Sebastião e S. Roque.
Numa composição dinâmica e alteada relativamente ao ângulo de visão do espectador, figura em primeiro plano, entre dois acólitos com círios acesos, o cardeal segurando um cibório na mão esquerda, e com a outra oferecendo a hóstia a um enfermo, que figura ajoelhado e desnudo.
Com a incidência da luz no ombro e braço direito deste pestífero, bem como com a sua acentuação na indumentária do santo e de um dos acólitos, através de empastes de branco tímbrico nas rendas, o pintor conquista para a imagem uma essencial ideia de dramatismo. Na mesma linha, e no plano subsequente, as vítimas da peste são representadas em escorço, sonegadas pela escuridão azulada do fundo. A coroar a composição, representam-se quatro anjos turiferários, de rosadas carnações, envoltos numa luminosidade celestial.