"[O artista] desafia a si mesmo com sua própria imagem diante do espelho. Sou quem enxergo e represento o que sou, desvelando sua alma ao contemplador. Valente, temeroso, soberbo, melancólico, a história de uma vida é contada por seu protagonista. Como se fosse um verdadeiro manifesto visual, o retratado se envolve de objetos, ambientes ou cores que aportam informação a respeito da sua identidade.
Um óleo de 1941 mostra Iberê em um entorno muito conotado. Raios e resplendores atravessam a tormentosa paisagem de suaves colinas. As árvores secas, de galhos tortos, remetem à paisagem como a metáfora de um estado da alma. Retrata-se de três quartos, de perfil, posição que enfatiza o prognatismo de sua queixada, evidenciando um traço de sua identidade racial: a herança mestiça."
HERRERA, María José. Iberê Camargo: um ensaio visual. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2009. p. 15.